3 de fevereiro de 2009

Losing


Soundtrack: Coldplay - Yellow

Tive tempo de te olhar. Todo o tempo que foi tirado de mim, agora pude colocar em minhas mãos e simplesmente, te olhar. Tive tempo de sentir seu cheiro, de conversar mais, falando no teu ouvido ou rindo alto para o mundo inteiro ouvir e ver o quanto você me deixa nesse estado de boba. Tive tempo de voltar revendo nosso caminho, tive tempo de te abraçar e sentir lá no fundo aquela paz, que só quem ama de verdade explica. Tive você para atravessar a rua de mãos dadas, para me fazer rir da coisa mais banal, para beijar minha testa e passar a mão no meu cabelo. E foi assim, te olhar me limpava. De qualquer mal, de qualquer medo, de qualquer perda. Mas como qualquer coisa que se deixa nas mãos corre o risco de escorregar, assim foi com o tempo. Passou rápido demais e deixou a sensação de que eu precisava te olhar mais. Não quero para essa história um final em que eu digo que o mocinho partiu e não levou nada, saiu sem olhar nem para trás. Quero que ele olhe e veja a mocinha dando adeus. Aquele adeus que diz que se espera até o tardar, sem ao menos pedir. E que ainda desviando o olhar feito de lágrimas, ela possa ver uma rajada verde para dizer que ainda sente como se ele estivesse somente chegando. Para dizer que realmente existe o tal mistério de amar para sempre. Ou talvez seja só o mistério da saudade, saudade adiantada. Só...

3 de janeiro de 2009

Do nosso jeito


Soundtrack: Lifehouse - You and Me

Somos parte dos momentos que vivemos. Disso não há mais dúvidas... Somos parte daquela brincadeira de criança, do primeiro beijo, das festas com os amigos, de cada sorriso que nos deram e que demos aos outros também, de cada choro que já tivemos alguém pra secar, ou, mesmo aqueles que nos fizeram aprender a fazer a própria roupa de lenço. Vivemos compartilhando momentos com as pessoas, nem que seja uma rápida conversa num ônibus enquanto se vai para o trabalho, nem que seja um papo com um taxista. Mas nossa memória insiste em selecionar tudo aquilo que considera mais importante e deixa ali, pra que você tenha algo que chamamos de passado. Pela vida encontramos várias pessoas e cabe a nós decidir o que queremos guardar delas. E se queremos guardar algo! Mas chega uma hora em que você encontra uma pessoa que te faz querer lembrar de tudo. Lembranças que vão de uma simples brincadeira até um beijo que você considera digno de Oscar. Para alguns essa hora demora e entra o tal erro de sair procurando desesperadamente qualquer traço de semelhança em algumas pessoas. A verdade é que quando chega a hora, o coração sabe. E ele não se deixa confundir. Pode se encantar por alguns meses, pode se camuflar numa paixão, num apego. Mas não te faz querer sentir o cheiro a qualquer hora. Não te faz até mudar o compasso da respiração quando se tocam. Não te faz criar o abraço do outro como morada, não se tem vontade de sair jogando felicidade por aí. A nossa hora já veio por várias vezes... E é incrível, como para mim, quando estou com você, é como se tudo tivesse continuado perfeitamente igual. Como se algumas coisas tivessem sumido, outras aparecido e nem dê para sentir falta de nada. Seu abraço continua o mais protetor, teus olhos continuam com um ar de menino, ainda que teus pensamentos me façam te ver cada dia mais homem. Tuas brincadeiras me fazem rir até quando ninguém ri e ainda me pego te olhando como se tivesse acabado de te conhecer. Talvez esse seja o momento mais incerto de nossas vidas, não temos noção de como serão as coisas daqui pra frente. E talvez até por isso entenda o medo de ficar dizendo que se ama e alimentando tudo com muitas palavras. Só quero que você saiba que tenho guardado todos os momentos contigo! Quero que você saiba que, pelo tempo que durar, quero estar ao teu lado. Aprendi a aceitar que podem me tirar você... Uma, duas, três vezes. Por erros meus, teus, pela vontade do destino, pelo desejo do tempo. Mas não tiram as lembranças! Posso aprender a não ter teus olhos sempre nos meus, mas já aprendi a te amar e te amando, passo a vida do teu lado, nem que seja naquela foto no meu mural.

23 de dezembro de 2008

Pedaços de mim num pedaço de papel


Soundtrack: Glen Hansard - All the way down

Essa carta não será demorada, só se faz necessária, porque alguns bons meses já se passaram desde que nos falamos pela última vez. Hoje, depois de tanto tempo, decidi mexer em algumas coisas tuas que ficaram aqui, alguns presentes, na esperança de ver tudo e não sentir nada. Bobagem! Ainda que eu encha meus dias de mantras, te chamando de infantil... Ainda que eu arranje mil ocupações durante a semana para não pensar em você... Não consigo esquecer de nada. Tudo que eu queria era ter você, infantil, andando por aí de mãos dadas comigo. Sabe? É como se as lembranças fossem papéis na parede e quando eu decido tirá-los de lá, eles saem, mas as fitas adesivas continuam coladas. E o perigo de também tentar arrancá-las é que posso estragar a parede. Assim é com a nossa história! É como se eu tentasse tirar você daqui de dentro do peito, mas tivesse medo de ficar com o coração estragado, como a parede. Então te deixo aqui, passo uma camada de tinta para disfarçar o defeito, mas fica mais feio ainda e mais visível.
Isso tudo ainda é muito estranho para mim. Me pego pensando em você nos momentos mais imprevisíveis, como quando vou tentar abrir um saquinho de catchup. E começo a me questionar de como você possa estar. Se você continua mordendo os copos de plástico nas festas quando tem vergonha, se você ainda gosta de usar meias brancas, se ainda usa a camisa que eu te dei. Se você ainda faz aquelas aulas de inglês a noite, que te cansam tanto, se continua nadando e lendo poucos poemas. Não sei se ainda é azul sua cor preferida, se aprendeu a dançar forró, não sei se ainda me ama, ainda me quer. Não sei se ainda chora ouvindo nossas músicas... Não sei se sou eu, não sei se é você. Só sei seu endereço e por isso mando essa carta, pois nem olhar no teu rosto, sem tremer de angústia, eu consigo. Enfim, eu nem precisava de tantas palavras. Não espero notícias, nem você eu espero mais... Já me acostumei a esse silêncio, sem tua risada, sem tua voz. Esse silêncio que fala, que me manda ter saudades, mesmo sem nenhuma mensagem na caixa postal. Bem, só queria te dizer: feliz natal!

16 de dezembro de 2008

Dois gumes


Soundtrack: A Fine Frenzy - Near to you

E sempre fica a pergunta: onde estava o problema? O problema era gostar demais, sonhar demais, ser diferente demais? O problema era ser sensível, era não conseguir esconder o que sentia? Não! O problema era o fim e o fim é isso. O ponto final! É o momento em que sobram papéis a espera de palavras de amor e os ouvidos se acostumam com o silêncio, ainda que sintam falta do “te amo”. O fim chega quando você se pega na chuva tentando fazer a pessoa aparecer ali ao teu lado de novo, numa espécie de mágica. O fim nos chama a vê-lo quando o telefone não toca, a mensagem não chega, o sono não vem. O fim chega quando some o brilho do olhar e você não sente mais a mão suada, por passar horas compartilhando da palma do outro. Ele vem quando não tem ninguém para cantar aquela música no teu ouvido, para fazer aquela brincadeira batida ou então te fazer raiva só para depois dizer como você fica linda brava. O fim chega quando se começa a dar nome a tudo... E aí perde o sentido. Ele dói e grita por dentro quando ao espalmar o teu lado só sobe poeira. Mas às vezes, o fim não permanece como culpado por muito tempo. E entra em cena o recomeço, que já chega deixando o palco do coração de cabeça para o ar. Ao primeiro sinal, já te faz pensar que tudo vai ser como antes e então se começa a não ver cura e ao mesmo tempo, não ter vontade de esquecer. Começa a fazer retroceder os dias e a cada manhã sobrar a imagem do sorriso, a sensação do toque. Induz-te a fazer planos e te deixa lá na chuva de novo, com o sorriso no rosto. Enche-te de fé, te faz se manter viva, bonita e até faz adiantar o relógio, arrancar a folha do calendário um mês antes para passar logo o momento do encontro. O recomeço vem e pode ficar... Ou vem e perde o papel. Perde quando recomeçar transforma-se em comodismo. Acomoda-se ao passado e não se tem mais vontade de construir futuro. Acomoda-se às lembranças e não se colocam fotos no álbum novo. Aí o cheiro vai sumindo, a chuva não cai mais, a mensagem é esquecida e o verbo amar que tanto era prezado, vira precipitação. Dessa vez, você entra em cena, sozinha, e o palco é esse mundo louco. A culpa não é de mais ninguém, a não ser daquilo que ainda te faz encontrá-lo.

12 de dezembro de 2008

Ciclo das palavras


Soundtrack: Ben Harper - Waiting on an angel

Dizem que nessa vida cada pessoa que passa por nós vira uma palavra. Acredito também que cada momento também possa ser uma palavra... Mas talvez a minha palavra de sempre, de todo momento, seja adaptação. Tive que me adaptar à várias coisas. Adaptar a enxergar diferente, me adaptar a colocar o copo de um outro lado durante a refeição. Me adaptei a ser verdadeira e diferente do mundo, não quis me adaptar a ser mais uma. Me adaptei a arrumar minha própria mala e confesso que demorou para eu me adaptar a limpar meu quarto sozinha. Me adaptei a outros ares e acabei me adaptando à ideia de que em cada lugar que se passa, você deve deixar sua marca, nem que essa seja o nome da sua cidade. Me adaptei a idéia de que as pessoas mudam e esquecem de avisar, então você tem que se adaptar a elas de novo e quando você não consegue mais, dói. Dói também(senão mais) quando elas não querem que você se adapte e aí você só fica com o tal do "estar perdido". Me adaptei a pensar que algumas pessoas realmente acabam indo embora, mas elas só se vão definitivamente porque a gente deixa. E é tão melhor pensar que vão porque deixamos... Mesmo que no fundo saibamos que elas vão porque querem. Me adaptei a acreditar no destino e assim fui me acostumando com a idéia de que podemos estar do lado errado, mas estamos do jeito certo, talvez só vamos demorar a entender o porquê de tudo. E sinceramente, às vezes o melhor é nem saber. Acabei tendo que me adaptar com a falta, de pessoas, de momentos, de partes de mim. Mas a verdade é que sempre vai faltar aquele buraquinho a ser completado em nós. Sempre vai sobrar aquele buraquinho, que depois que tudo passa te faz ver o quanto era necessário, a partir do momento em que por ele entrava o ar que lhe era preciso para viver. E assim, nessa parte do ciclo, adaptar é a palavra do momento e saudade é a tua palavra.