8 de outubro de 2011

Sobre recheios e adubos



Soundtrack: Ellie Goulding - Your Song

Não estou querendo que as coisas voltem ao normal e nem pedindo pra você voltar. Talvez pudesse simplesmente chamar isso de estado de silêncio. As palavras tem o sério poder de nos traírem vezenquando, como se diante de situações que envolvem o questionamento dos nossos sentimentos, um filtro, que liga nosso coração a boca,  furasse. Assim as palavras se misturam ao que sempre se quis falar e escorrem em meio a um vapor de saudade. Mas como você já sabe do meu filtro furado e da minha dificuldade de retenção de idéias, aqui vai... "Você tentou melhorar o pior de mim". Talvez essa seja a primeira frase. Talvez você conseguiu. Talvez não. A questão é que em meio a essas nossas tentativas, eu me perdi, confesso. Me perdi tentando buscar uma identidade que não tinha minha cara, minha foto, minha filiação, minha digital. Me perdi usando dos filmes para chorar pelos meus problemas, me perdi usando de outros disfarces para inutilmente tentar mostrar que eu sou diferente. Você é uma pessoa boa e eu também (e espero não estar traindo o que meu coração pensa ao dizer isso). Só não queria que você achasse que uma pessoa boa não faz o que eu fiz. Os bons erram mesmo quando querem tanto o bem de uma pessoa, a companhia e o sorriso que acabam não respeitando o limite que o tempo cria ou simplesmente consome. O erro começa no pensamento de que sempre cabe mais perdão daqueles que nos amam, até o dia em que cansados de nos perdoar, essas pessoas começam a nos julgar mais pelo erro e menos pelo que é bom. Uma simples palavra traidora do que a gente pensa, uma simples atitude por impulso, passa a valer mais do que as músicas cantadas no carro. Você foi meu adubo, não te substituí pelas outras pessoas, eu optei crescer com você, mesmo sabendo que sou plantinha pequena. Eu optei pelos dias com você, mas não soube optar pelo que poderia ser mais duro de se fazer, mas ainda assim tão mais certo: respeitar o tempo das coisas. Acredite, eu sinto saudades. Mas falta é uma coisa perigosa quando a gente confunde com apego. Acho ruim quando acordo pensando o que você pode estar fazendo, se você continua com aquele guarda-roupa bagunçado e a barba por fazer. Isso é apego e gruda na gente de um jeito que não deixamos a pessoa seguir a vida dela, mesmo que seja no caminho imaginário do nosso pensamento. Mas acho bom quando sinto saudade. Quando fecho os olhos e ainda ouço sua risada. Quando vejo as suas fotos e ainda consigo enxergar aquele suor que fica embaixo do seu olho. E isso é gostoso. Nessas horas vejo sentido em tudo que aconteceu com a gente, vejo sentido no porquê ficamos juntos. E aceito o que de melhor você me deixou.
Eu diria que relacionamentos são como um eco num espaço vazio. O que dizemos reflete em nós mesmos. Tudo que dizemos volta, mesmo que com intensidades mais fracas, mas por repetidas vezes, ressonando nos nossos ouvidos. Nesses momentos, é preciso fechar os olhos para ouvir melhor o que estamos refletindo ou simplesmente aprender como ouvir, mesmo que não se ouça nada. Silêncio também é dádiva.
Cada um ao seu modo, cada um com sua mágoa, a questão é que os finais sempre nos doem, mas nesses momentos muitas das respostas aparecem. Os vazios nos oferecem espaços grátis. Quando abrimos mão de algumas coisas, vemos nossas mãos vazias e 100% de chance de agarrar coisas novas. Algo sempre vai faltar, mas é questão de escolha o que queremos no recheio. E eu te desejo algo bem doce.