25 de janeiro de 2014

Da falta que a falta faz


Soundtrack: Patrick Watson - Sit down beside me

Tenho timidez da distância. Durante minha vida toda acreditei que a proximidade era como a crença de que tudo que é plantado precisa ser regado, ali, juntinho, perto. Tenho vergonha de conhecer a distância e fico vermelha quando me perguntam o que acho dela, porque eu diria "eu não acredito na distância". Mas, comecei a pensar que eu acredito no poder da falta em nós. Faltar é não ter perto, faltar é a própria distância. Viver as coisas já imaginando a própria falta delas é improvável (e cruel). É cruel como gostar de João, que acha que gostou de Maria, que nunca gostou de ninguém e anula o amor de todos. Por isso, o poder da falta é justamente ter fé que pode dar certo, porque não se quer acreditar no "não". É imaginar que dá pra fazer de tudo para estar sempre ali, porque a felicidade do "ali" parece impossível de ser roubada. Parece que ela não retira. Ela só traz. Traz o sorriso quando a gente procura um lugar pra não se soltar, um abraço em que a gente caiba, já que a cama ficou pequena pra dois ou mesmo pra um, quando se espera a chegada do outro. Ela traz a paz quando você acorda ouvindo a música que tocava naquele momento especial e é como fazer amor tomando café, mesmo na ausência. Mas traz também a espera. A espera de que tudo seja tocável. Para que o beijo não fique junto com o tchau ao desligar o telefone, para que a voz caiba nos ouvidos e não em mensagens de texto. Para que não pareça que só é possível colocar os pés na água, porque o rio é imenso e fundo. A falta é intensidade, como quem quer amarrar. É interrogação, como quem acorda sem entender, vivendo as probabilidades do não estar. A falta vira tudo quando não pode dar certo ou vira tudo quando a real vontade do coração é simplesmente amar e ter um abrigo nesse mundo desabrigado de permanências. A falta começa já pelo fato de se estar. E termina sabe-se lá onde.