22 de julho de 2011

Certo?



Soundtrack: Ingrid Michaelson - Can't help falling in love with you

Lembro quando decidimos brincar com essa coisa de ficar bem. Esquecer o passado, esquecer os problemas, esquecer mágoa com nome e cheiro. Lembro bem do olhar de "dessa vez vai ser diferente". A cor do seu olho conseguia refletir o momento em que eu faria aquela banana amassadinha com mel que você gosta. Nosso contato cheirava ao imprevísvel. Cheirava caixa nova de lápis de cor, de lençol gasto com seu cheiro de novo. Depois de tanto tempo ser esses seres com asas tomarem conta da boca do meu estômago, tinha você ali, tirando meu cabelo da cara, aparecendo com uma caixinha cheia de papéis amarelos escritos em caneta preta, me ensinando o que era um briefing, um beijo com gosto de ume. Você sabia fazer o mais difícil: você sorria me olhando. A perfeita junção do sorriso com o olhar enquanto meu coração disparava só de pensar o que poderia estar passando pela sua cabeça. Mas a verdade era essa, eu conhecendo algo novo, esquecendo de que eu continuava me vendo velha por dentro. Quando você sorria não devia saber dos meus defeitos e de como posso ser irritante tentando entender o que acontece quando você só diz ok para cada frase que eu digo. A gente cheirava o imprevisível, mas eu não. Sou chata. E previsível.
Sabe, você precisa saber disso. Eu realmente sou desconfiada, imponho minhas opiniões de um jeito estranho, sou cabeça dura e odeio o telefone do seu quarto que pifa, responsável por pelo menos 10% dos nossos desentendimentos. Se eu não gosto de uma coisa minha cara conta e meu abraço de "ainda tô digerindo isso" é acompanhado de alguns tapinhas. Mas sabe o que eu preciso? 5 minutos. 5 minutos para encher o pulmão de ar e desviar qualquer coisa do meu pensamento. Eu sofro dessa asma da falta de respostas. Eu quis ser a nova, mas eu sou essa. Eu pareço cheia de gente, mas sou meio sozinha. Sou bagunçada, odeio lavar a louça e preciso de licença poética pra falar o que eu sinto, olha que piegas! Sou chata e não sei conversar direito sobre essas coisas, porque no fim repito tudo que falei, mas com palavras diferentes, porque a minha idéia principal sempre vai ser a mesma. Finjo que dou conselho para os outros, mas comigo mesmo nunca funciona. E adoro o espacinho que sobra entre nós na sua cama e que falta na minha, porque posso virar pro seu lado sem te acordar e continuar te vendo dormir.
Não quero ser sua pergunta e não quero que você seja a minha resposta. Mas também não quero que meus pensamentos me tranquem durante horas num mesmo cômodo da minha casa. Cansei de desenhar esboço das coisas e depois ficar com medo de vivê-las. Não quero te fazer feliz forçadamente só porque eu apareci e as coisas foram acontecendo. Não quero ouvir de você que não estamos nos agradando e nem vou botar a paciência que eu arranquei de você num pedestal, a espera do momento em que eu diga que você me "esculachou". Não quero que você tire as conclusões no meu lugar. Já fui essa demais e desgasta. Cheia de erros, traumas, essa sou eu. Mas a mesma, que quer te fazer feliz, que ainda fecha os olhos e vê você sorrindo enquanto diz: "você é linda quando acorda". A mesma que ainda respira e sabe o amor que tem por você, que dura mais do que os 5 minutos de asma. Mesmo com tanto barulho em volta, não deixa de me ouvir não. Fecha os olhos também e lembra daquele dia em que eu disse que você não existia. Me deixa te inventar às vezes, caladinha, sem nem te contar e me inventa também pra que haja um pouco de paz acima dos erros. Mas lembra que paz infinita não é sinônimo de amor duradouro. Lembra de não se perder de mim, certo?