9 de março de 2013

Sobre estar viva


Soundtrack: Rihanna feat.Mikki Ekko - Stay

Aqui estou eu, observando o que o mundo faz. Não falo da vida dos outros, falo da minha. Aqui, no canto das memórias, me sento, um pouco temerosa de sair dos corredores que falam de coisas que já se foram. Observo, tentando entender o que realmente quer dizer "aqui". E pergunto: onde realmente é nossa vida? Onde ficamos? Em que ponto fomos deixados? Viver é um contudo. É ser acordado pelo tempo, batendo na porta, te mandando juntar os pedaços para atravessar mais uma ponte. Viver é machucar os dedos, atando e desatando nós durante anos e almas. É conviver com esse medo do café ter ficado amargo e ninguém mais ter vontade de beber. E convenhamos, ninguém gosta de café amargo e morno (muito menos requentado). Há dias em que desconfio da nossa coragem, coisa que Deus dá logo nos primeiros dias de vida, fazendo você levar por volta de 3 meses para realmente enxergar perfeitamente o mundo. Coragem é essa coisa imperfeita que te diz pra ir, quando tudo que você quer é dormir, não ouvir o tempo bater na porta, não juntar os pedaços, não atravessar as pontes. Ou quando você quer morar na mesma casa e ter os mesmos amigos ou não tirar seus livros do lugar, não empacotar pertences, fazer malas e devolver as chaves daquela época. Coragem é essa coisa persecutória que surge nos momentos em que você não já não cabe mais e tenta parar de dançar de acordo com a música repetida. Coragem é rebeldia e exige uma péssima memória (e um desequilíbrio momentâneo e instintivo). É abrir mão do que temos por um segredo que não temos: o que vai ser? Quem eu serei?
Das certezas da minha vida, tenho por mim que continuarei esquecendo datas importantes, tendo dificuldade de ler as horas nos relógios analógicos e sentindo saudade de tudo que eu perdi para o passado. Sentindo saudade daqueles momentos em que, na época, eu dizia odiar por ter hora de voltar pra casa, mas que hoje eu assino como alguns dos melhores momentos, porque o que se foi é sempre onde a gente tentou ser mais feliz na vida, mas nunca sabemos disso na hora. A verdade é que o passado nunca se resume a uma coisa só, como essa história das "coisas que estão para chegar" (e chegam duma vez). O passado é aquela massa concreta e até defeituosa, mas certa. E nós, humanos, gostamos da virtude que é a certeza.
Tenho ouvido os sussurros do tempo se aproximando: "Quem você será? O que vai ser da sua vida?". E acordo assustada. Pela primeira vez, nos últimos anos, não quero ouvir que é hora de deixar o corredor que eu tenho vivido por quatro anos, diariamente, intensamente, para atravessar a ponte em meio a essas coisas marginais, pouco sabidas, irreconhecíveis no escuro da dúvida. É como retornar ao nascimento. Acordar vendo vultos e ouvindo vozes desconhecidas, na espera de reconhecer o meu novo lugar no mundo.
Ao meu presente, afirmo: não vou despedir de você. Que vire passado e que ele sobreviva em mim, correndo pelas veias, reciclando meus juízos, verdades, mentiras. Que eu seja a incógnita dos desvios de estar viva, abençoada pelas lágrimas do que cabe nas minhas mãos. É hora de esperar pela reforma do olhar. É hora de enlouquecer de coragem. É hora de crescer. Enloucrescer.