26 de dezembro de 2011

Attraversiamo



Soundtrack: Caetano Veloso - Oração ao tempo

O tal relativismo da passagem de ano. Engraçado como realmente 365 dias são capazes de nos transformar, nos aproximar, nos afastar, nos encher os olhos com perspectivas diferentes. 2011 foi um ano de intenções, planos desfeitos, refeitos, concretizados. Sem dúvida alguma, o ano mais difícil de todos os 20 que já pude presenciar. Pensei em muitas palavras capazes de descrever e a melhor foi: FÉ. Com tudo que ela traz, uma palavra de duas letras teve um poder energizante sobre tudo que agora eu sou, nessa quase chegada de 2012. Sem qualquer palavra pomposa, a fé, esse "algo" nada palpável, mas tão visível, tomou conta de mim com a mesma facilidade que qualquer luz consegue iluminar um quarto escuro. Esse ano me conheci diante desse mistério que é crer, sentir, agradecer, celebrar nosso amor interno. Mantive a fé em algumas pessoas, outras a cativaram. Acreditei, confiei, investi nesse poder que é o encontro de almas. Essas pessoas conheceram meus melhores sorrisos, tiveram meus melhores abraços, me aqueceram nessa manta quentinha que é a amizade. E a eles, vai meu muito obrigado. Talvez sem ver, num simples olhar, vocês me deram uma força tremenda que nunca caberia em palavras. Tive fé também nas decepções, nos erros, nas despedidas. Esse ano mais do que nunca fui prova de tal frase tão corriqueira, mas ainda assim tão verdadeira: "nada acontece por acaso". Não me arrependo dos passos em falso, das pessoas que me desapontaram ou o próprio destino, esse pregador de peças, que por muitos dias me roubou o sossego, colocando no lugar um olhar perdido. Me vi diante de reflexões maduras, até infantis e concluí que realmente não adianta querermos encaixar momentos onde eles simplesmente não cabem. Sou total fã do coração, dessa magia que é deixar o sentimento transpirar, mas de vez enquando é bom acreditar no poder que as nossas pernas podem ter de fugir de algumas situações, de escolher rumos diferentes. De vez em quando um pouco de anti-transpirante de sentimentos tem que existir ou resumindo, ser racional também faz bem. A própria anatomia do corpo diz: não dá pra carregar o mundo nas costas. 2011 foi um ano de encaixes e desenlaces, proximidade e distância... e uma conclusão. Dá pra ser feliz mesmo quando as coisas não saem como a gente imagina. Mesmo quando nossa alma acorda feito nosso cabelo, meio desarrumada, dá pra tomar um banho gelado e vestir a roupa mais bonita do guarda-roupa, mesmo que seja pra ir ali comprar pão. Esse ano perdi um pedaço meu e não acho que 2012, 2013, 2014 mude essa falta. Alguns vazios simplesmente exigem o vazio. Repetitivo né? Mas é bem simples assim. Aceite isso, a falta é uma das palavras mais usadas quando se trata de amor. E essa foi uma das outras coisas que eu também aprendi: não julgue o amor. O amor não enruga, ele não fica gordo, o amor não pinta o cabelo de laranja, o amor não tem tatuagem, não gosta de tal tipo de música, o amor não toca no rádio. Por isso não vamos usar essa mania humana de julgar tudo que vê pela frente. Sinta o amor, mas não queira a cura e a felicidade em todas as coisas nas quais VOCÊ decidiu depositar seu amor. Não queira julgar quem entra e sai da sua vida. Você tem a opção de escolher o que quer fazer, então dê o seu melhor, mesmo que lá na frente você precise nunca mais ouvir uma música. O único julgamento que podemos nos fazer é: estamos vivendo SEM amor? Conviva com as faltas, mas não aceite a falta de carinho, de amor próprio. Não seja resignação diante do poder transformador de abraçar. Tenha fé no ouvir, falar, perdoar, agradecer. Não duvide do poder das pequenas coisas. Não duvide do poder da oração ao deitar ou acordar. Converse com o seu Deus, fale do seu dia. Me tornei muito amiga de Deus, a ponto de conversar com Ele tomando um suco. Em meio a tantas distâncias, ta aí uma pessoa próxima e que nos ensina o quanto, às vezes, tudo que alguém precisa é ser ouvido. Tenha fé até nos seus sonhos pequenos, ache alternativas para que as coisas mais chatas do seu dia se tornem legais. Mas não faça isso sempre. 2011 também foi um ano de cabeça no travesseiro e muitas lágrimas. Não ache normal felicidade constante e escolha momentos para não conseguir articular seus sentimentos. Esse ano usei de uma palavra mágica que fala por si: o silêncio. O silêncio é uma prece, uma dádiva. Provavelmente, nos maiores silêncios do ano pude trabalhar o poder de pensar e ainda assim não falar. Remar o barco e conseguir ouvir só o barulho do mar, ouvido seletivo. Mas remar para onde? 2011 também teve um certo ar de perdido, exigiu um pouco mais de força no remo. E mais uma vez entrou a fé, um vento impulsionando o meu barco quando eu pensei não conseguir remar.
Em meio a 365 dias, poderia escolher mais de 365 agradecimentos. Mas dedico esse ano ao tempo que anda sempre ao lado do que chamamos de vida. O tempo, esse agridoce diário, essa descoberta, essa busca, essa fé que surge de onde menos esperamos. Mesmo diante de tanto caos interior que consigamos entender que algumas coisas só se tornam claras e cabíveis com o passar do tempo e de algumas pessoas pela nossa vida. Sempre existirão loucuras específicas para a nossa existência. E resistir a isso é se negar a viver um dia de cada vez. Que ele nos dê a mão e nos convide a atravessar juntos, um passo de cada vez. Que 2012 nos aproxime mais do que chamamos de nosso, que estejamos mais perto dos nossos sonhos, dos nossos amigos, dos nossos amores, da nossa paz. De tudo em que depositamos nossa FÉ!
Como uma amiga hoje lembrou: attraversiamo. Atravessemos juntos. Que venha 2012, com muito tempo pra ser feliz!

28 de novembro de 2011

Organiz(ando)


Soundtrack: Feist - Intuition

Você sabe onde eu estou. Sabe que eu adoro sorvete de pistache, beijo no queixo, arrepio bom. Sabe que eu adoro alguns clichês e frases bonitas bem organizadas, com metáforas de mocinho poético num olhar que fala. Você sabe o que me toca, sabe o quanto odeio as coisas não-vividas, gente superficial. Você sabe da minha indecisão, até na hora de escolher um suco ou de pensar qual a melhor palavra pra te descrever. Você sabe que consegue roubar meus pensamentos por telepatia, sabe do estrago que ainda faz no meu subconsciente, insistindo em me fazer sorrir ou em ter vontade de te matar .Você sabe que a gente se entende, só que insistimos em falar línguas diferentes, sobrando a tarefa de tradução pro silêncio, com interpretações pessoais e isoladas.
Você sabe que eu continuo aqui. Sabe que ainda tropeço em você por aí, mesmo sem te ver. Sabe que ainda dói, por mais maluca que eu pareça falando isso e que eu ainda me pego lembrando de você cantando Zeca Pagodinho no meu aniversário. Você sabe que vai encontrar alguém e eu também. Sabe que esse alguém vai tentar arrumar seu guarda-roupa ou fazer um trato de uma semana sem coca-cola. Você sabe que esse alguém vai te conquistar, porque gosta de fotografia, das mesmas músicas que você e consigo ver vocês cozinhando juntos, tomando um vinho branco e rindo do destino. Você sabe que vai se desequilibrar, vai se perder e vai acordar pensando em tudo, menos em mim. Você sabe que os presentes vão parar no fundo da gaveta, que os recados do carro vão ficar só na memória e que as fotos do seu mural vão ser trocadas. Que a gente vai se acomodar a ficar sem o outro, que algumas coisas em nós vão mudar e outras não. E sei que ainda vou me perguntar mais umas 15 vezes por dia se fiz a coisa certa, até o dia em que eu me pergunte 10 vezes, 5, 3. Até o dia em que eu não me pergunte mais.
Mas já que é pra ir embora, vamos de vez. Digamos que valeu a pena se perder, até porque não tem graça se achar o tempo todo. Então a gente se organiza e adequamos o tamanho do lugar de cada um. Eu tomo meu sorvete de pistache, você faz suas viagens misteriosas. Paramos de tentar nos enfiar em aspas e mesmo que nada venha agora, aceitemos a transição, a espera do próximo passo, mesmo sem chegar no tal do "lá". Sei que pareço patética tentando parecer a forte e decidida da história, vendo as coisas com outros olhos, num tal de não-tá-bom-mas-tô-bem, só que eu sei que doeu e vai passar. A vida é assim mesmo: água na ferida lava, mas dói. Se cuida, por mim.

6 de novembro de 2011

Dentre todas as coisas, o amor



Soundtrack: Adele - Don't you remember

Fizeram a gente viver distinguindo isso que é o certo ou o errado. Fizeram a gente acreditar que ou algo te faz bem ou algo simplesmente te faz mal. Enquanto a gente vai se enfiando por entre coisas agridoces, vamos tentando perder a essência fazendo com que elas sejam agri ou doces. Fizeram a gente acreditar que alguém só te fez feliz enquanto você não o perdeu. E enquanto isso vamos deixando de acreditar no que as pessoas podem representar e ensinar. Se terminou, não foi amor. Se não durou ao ponto de se mostrar os defeitos mais subversivos ao potencial pessoal de alguém, não foi amor. Fizeram a gente acreditar que se não houve mudança dos seus hábitos por alguém, não foi amor. Acreditar que se pode reinventar o outro vezenquando? Não, não pode. Porque fizeram a gente acreditar que o amor é palpável e o que você vê tem que ser o que você ama. Fizeram a gente acreditar que se mexe com os hormônios, se faz sentir tesão (misturado a algumas doses de vodka), não pode ser amor. Porque o amor é sempre puro. Fizeram a gente acreditar que desencontro não é amor. Que se perder no caminho é sem volta, porque o amor não se adia. E assim, fizeram tudo ter prazo. Enquanto o destino vai separando as pessoas e outros vão se descrendo do chá de maturidade que pode ser o tempo. Fizeram a gente sobrepor o amor aos avessos humanos. Fizeram a gente acreditar que no amor a gente cronometra as palavras, que é feio, às vezes, explodir e realmente não querer voltar atrás, simplesmente ter vontade de esquecer. Porque ensinaram que amor é sempre perdoar. Fizeram a gente acreditar que o que vale é o "no final das contas", enquanto o mais bonito é "o que se somou para chegar no final das contas". Fizeram a gente acreditar que amor é apresentar uma mão diante de uma jura de amor repetida por vários, enquanto talvez você passe anos sem apresentar as duas que você tem ou ver quatro mãos.
Ensinaram tanta coisa errada e ainda não temos talvez aceitação para a única verdade de todos os tempos: o amor dói. Dói de alegria, dói de ansiedade, dói de saudade. Dói no ganho, dói na perda, dói no desgaste. Dói porque é humano. Dói até o dia em que se torna indiferente, porque o motivo para ter dado certo foi simplesmente ter dado errado. E então ele renasce. Porque para amar não precisa existir um amor para a sua vida, precisa existir o que lhe é entregado em prece diária: a sua vida com o que você chame de amor.

8 de outubro de 2011

Sobre recheios e adubos



Soundtrack: Ellie Goulding - Your Song

Não estou querendo que as coisas voltem ao normal e nem pedindo pra você voltar. Talvez pudesse simplesmente chamar isso de estado de silêncio. As palavras tem o sério poder de nos traírem vezenquando, como se diante de situações que envolvem o questionamento dos nossos sentimentos, um filtro, que liga nosso coração a boca,  furasse. Assim as palavras se misturam ao que sempre se quis falar e escorrem em meio a um vapor de saudade. Mas como você já sabe do meu filtro furado e da minha dificuldade de retenção de idéias, aqui vai... "Você tentou melhorar o pior de mim". Talvez essa seja a primeira frase. Talvez você conseguiu. Talvez não. A questão é que em meio a essas nossas tentativas, eu me perdi, confesso. Me perdi tentando buscar uma identidade que não tinha minha cara, minha foto, minha filiação, minha digital. Me perdi usando dos filmes para chorar pelos meus problemas, me perdi usando de outros disfarces para inutilmente tentar mostrar que eu sou diferente. Você é uma pessoa boa e eu também (e espero não estar traindo o que meu coração pensa ao dizer isso). Só não queria que você achasse que uma pessoa boa não faz o que eu fiz. Os bons erram mesmo quando querem tanto o bem de uma pessoa, a companhia e o sorriso que acabam não respeitando o limite que o tempo cria ou simplesmente consome. O erro começa no pensamento de que sempre cabe mais perdão daqueles que nos amam, até o dia em que cansados de nos perdoar, essas pessoas começam a nos julgar mais pelo erro e menos pelo que é bom. Uma simples palavra traidora do que a gente pensa, uma simples atitude por impulso, passa a valer mais do que as músicas cantadas no carro. Você foi meu adubo, não te substituí pelas outras pessoas, eu optei crescer com você, mesmo sabendo que sou plantinha pequena. Eu optei pelos dias com você, mas não soube optar pelo que poderia ser mais duro de se fazer, mas ainda assim tão mais certo: respeitar o tempo das coisas. Acredite, eu sinto saudades. Mas falta é uma coisa perigosa quando a gente confunde com apego. Acho ruim quando acordo pensando o que você pode estar fazendo, se você continua com aquele guarda-roupa bagunçado e a barba por fazer. Isso é apego e gruda na gente de um jeito que não deixamos a pessoa seguir a vida dela, mesmo que seja no caminho imaginário do nosso pensamento. Mas acho bom quando sinto saudade. Quando fecho os olhos e ainda ouço sua risada. Quando vejo as suas fotos e ainda consigo enxergar aquele suor que fica embaixo do seu olho. E isso é gostoso. Nessas horas vejo sentido em tudo que aconteceu com a gente, vejo sentido no porquê ficamos juntos. E aceito o que de melhor você me deixou.
Eu diria que relacionamentos são como um eco num espaço vazio. O que dizemos reflete em nós mesmos. Tudo que dizemos volta, mesmo que com intensidades mais fracas, mas por repetidas vezes, ressonando nos nossos ouvidos. Nesses momentos, é preciso fechar os olhos para ouvir melhor o que estamos refletindo ou simplesmente aprender como ouvir, mesmo que não se ouça nada. Silêncio também é dádiva.
Cada um ao seu modo, cada um com sua mágoa, a questão é que os finais sempre nos doem, mas nesses momentos muitas das respostas aparecem. Os vazios nos oferecem espaços grátis. Quando abrimos mão de algumas coisas, vemos nossas mãos vazias e 100% de chance de agarrar coisas novas. Algo sempre vai faltar, mas é questão de escolha o que queremos no recheio. E eu te desejo algo bem doce.

17 de agosto de 2011

Vinil



Soundtrack: Norah Jones - What am I to you?

E de repente um gene de coragem brotou no seu DNA. De repente, você surgiu reformulando frases, com uma simpatia de uns quatro copos de vodca a mais. E parecia com o sorriso mais bonito, apesar do cabelo ralo. Pra disfarçar a minha surpresa, preferi olhar pra sua camiseta limpinha e criei o mantra de que "camiseta limpa não é base pra relacionamentos, camiseta limpa não é base pra relacionamentos". Cheguei a conclusão que quando o assunto é "nós", ainda me divido feito aqueles discos antigos de vinil, sabe? Lado A, lado B... Divido as faixas, divido os planos, expectativas. No lado A fica aquela menina que não quis te magoar, não quis riscar o disco, que deixou a música tocar no ritmo da banda, que pensou deixar a vida seguir o rumo que tinha que tomar. O lado A reúne a nossa coletânea de refrões mais complicados, exigindo um tom definido, cobrança, treino, muita cabeça no lugar, muita metodologia. Uma repetição de algo como "nós versus o tempo". Um tempo que nos consumiu, enquanto a gente deixava e pegava na mão um do outro como todo casal. Esse é o resumo do lado A, tendo como faixa bônus mais um mantra: "sorriso bonito não é base pra relacionamentos, sorriso bonito não é base pra relacionamentos".
Até que se vira o disco e vem o lado B. Te olhando ali fico pensando nos refrões, imagino o ápice das músicas, que ainda que repetidas, todo mundo canta, todo mundo gosta. E quase me entrego ao seus olhos que ficam cantando aquela música que eu adoro. O lado B se enche dessa fase de querer criar porções de nós, pedaços seus, entre os lençóis, entre as ruas, entre encontros com sua camisa limpa (que não é base pra relacionamentos, mas que cheira você). É o lado mais rebelde, rock 'n roll, nada cheio de moldes, mas com tanta história pra contar. São os risos espalhafatosos que a gente colecionou enquanto via televisão no domingo ou quando se esqueceu do aniversário de um ano de namoro. São os momentos em que a gente conseguia crer que contos de fadas não existem, mas que é possível ser feliz numa segunda-feira de sol bravo só de se ligar e dizer "lembrei de você". Ou então quando surgia aquela voz de gato com amigdalite pedindo colo, mas que soa como a voz da Marisa Monte cantando o clássico "Beija eu". Delícia de amigdalite!
Confesso que ao te ver ali parado, cheguei a bolar milhões de mantras na cabeça, envolvendo sua camiseta, seu sorriso, seus ombros largos, sua voz, sua nova mania de falar com as mãos, sua nova mania de simpatia pós-vodca, seu novo gene de coragem. Sorri pra você, agora desviando os olhos da sua camiseta e virei as costas, fugindo da oportunidade de ouvir tocar de novo o lado A ou o lado B. Talvez meu problema seja te olhar. Talvez nosso problema seja a falta de toca discos de vinil no mercado. Quem sabe um dia eu consiga achar um. Quem sabe um dia a gente se ache por aí.

22 de julho de 2011

Certo?



Soundtrack: Ingrid Michaelson - Can't help falling in love with you

Lembro quando decidimos brincar com essa coisa de ficar bem. Esquecer o passado, esquecer os problemas, esquecer mágoa com nome e cheiro. Lembro bem do olhar de "dessa vez vai ser diferente". A cor do seu olho conseguia refletir o momento em que eu faria aquela banana amassadinha com mel que você gosta. Nosso contato cheirava ao imprevísvel. Cheirava caixa nova de lápis de cor, de lençol gasto com seu cheiro de novo. Depois de tanto tempo ser esses seres com asas tomarem conta da boca do meu estômago, tinha você ali, tirando meu cabelo da cara, aparecendo com uma caixinha cheia de papéis amarelos escritos em caneta preta, me ensinando o que era um briefing, um beijo com gosto de ume. Você sabia fazer o mais difícil: você sorria me olhando. A perfeita junção do sorriso com o olhar enquanto meu coração disparava só de pensar o que poderia estar passando pela sua cabeça. Mas a verdade era essa, eu conhecendo algo novo, esquecendo de que eu continuava me vendo velha por dentro. Quando você sorria não devia saber dos meus defeitos e de como posso ser irritante tentando entender o que acontece quando você só diz ok para cada frase que eu digo. A gente cheirava o imprevisível, mas eu não. Sou chata. E previsível.
Sabe, você precisa saber disso. Eu realmente sou desconfiada, imponho minhas opiniões de um jeito estranho, sou cabeça dura e odeio o telefone do seu quarto que pifa, responsável por pelo menos 10% dos nossos desentendimentos. Se eu não gosto de uma coisa minha cara conta e meu abraço de "ainda tô digerindo isso" é acompanhado de alguns tapinhas. Mas sabe o que eu preciso? 5 minutos. 5 minutos para encher o pulmão de ar e desviar qualquer coisa do meu pensamento. Eu sofro dessa asma da falta de respostas. Eu quis ser a nova, mas eu sou essa. Eu pareço cheia de gente, mas sou meio sozinha. Sou bagunçada, odeio lavar a louça e preciso de licença poética pra falar o que eu sinto, olha que piegas! Sou chata e não sei conversar direito sobre essas coisas, porque no fim repito tudo que falei, mas com palavras diferentes, porque a minha idéia principal sempre vai ser a mesma. Finjo que dou conselho para os outros, mas comigo mesmo nunca funciona. E adoro o espacinho que sobra entre nós na sua cama e que falta na minha, porque posso virar pro seu lado sem te acordar e continuar te vendo dormir.
Não quero ser sua pergunta e não quero que você seja a minha resposta. Mas também não quero que meus pensamentos me tranquem durante horas num mesmo cômodo da minha casa. Cansei de desenhar esboço das coisas e depois ficar com medo de vivê-las. Não quero te fazer feliz forçadamente só porque eu apareci e as coisas foram acontecendo. Não quero ouvir de você que não estamos nos agradando e nem vou botar a paciência que eu arranquei de você num pedestal, a espera do momento em que eu diga que você me "esculachou". Não quero que você tire as conclusões no meu lugar. Já fui essa demais e desgasta. Cheia de erros, traumas, essa sou eu. Mas a mesma, que quer te fazer feliz, que ainda fecha os olhos e vê você sorrindo enquanto diz: "você é linda quando acorda". A mesma que ainda respira e sabe o amor que tem por você, que dura mais do que os 5 minutos de asma. Mesmo com tanto barulho em volta, não deixa de me ouvir não. Fecha os olhos também e lembra daquele dia em que eu disse que você não existia. Me deixa te inventar às vezes, caladinha, sem nem te contar e me inventa também pra que haja um pouco de paz acima dos erros. Mas lembra que paz infinita não é sinônimo de amor duradouro. Lembra de não se perder de mim, certo?

16 de junho de 2011

Selado



Soundtrack: Ingrid Michaelson - Turn to stone

As coisas parecem chegar na nossa vida com o selo do destino pregado no envelope. E vezenquando, ele parece atrasar. Ela ficava todos os dias indo até a caixinha de correspondências a espera do seu destino. Conta do banco, de luz, aluguel... E se questionava: o que eu tô fazendo aqui? Foram muitas as noites em que acordava perdida. Por algumas noites, chorava escondida no banheiro, com a toalha na boca, depois de ter ouvido um CD inteiro do Coldplay. Queria riscar aquela faixa picuinha, queria o Chris Martin com faringite! Esperar o destino era tarefa do dia, depois de tirar o lixo, se sentava no sofá a espera de uma resposta. Nem que fosse um aviso dos correios de que o destino estava preso na alfândega, com a necessidade de um pagamento extra pela retirada. Ela pagaria! E houve uma madrugada em que jogou todos os sachês de mostarda fora. Ficou amiga dos carteiros da rua e dava até cafézinho, sem saber, que na verdade, ele era o carteiro. Ele fez todo o serviço. Ele que a julgava, enquanto ela foi a pessoa mais sincera que já tinha aparecido no seu caminho. Ele que a fez se sentir petrificada, baforando palavras geladas, se misturando em sumiços, fazendo aparecer um lado antes não conhecido. Ele que perseguia as respostas dela, sem saber responder suas próprias perguntas. Beberam num mesmo copo, brindaram separados. O destino chegou e quem tocou a campainha foi ele, com um barulho estranho de soco no volante, de estômago embrulhado, choro contido. Dez segundos sem ar e um sono profundo. Foi nesse dia que arrancou o selo do envelope deixado por debaixo da porta e guardou na gaveta. Colocou um selo novo e decidiu esperar, até poder entregar em mãos para outra pessoa. Esse era o destino. Um sentimento moldado a mão, com alguns soluços, sorrisos, clichês. Com algumas histórias, brindes, esperas... E com algumas páginas, sempre a espera de novas palavras.
Entre selos e campainhas, desencontros acontecem. Às vezes, a correspondência atrasa. E acordarmos para o fim, também. A verdade é essa: o amor fica pesado e não aguenta tanta cobrança em cima de 2 pés. O que quase ninguém consegue entender é que esse barulho interior nada mais é que um coração batendo. Vivemos, conhecemos, selamos, com lágrimas, com beijos... Se a gente vai embora ou não, quem decide é o destino. Se o amor vai embora ou não, quem decide é o tempo. E o tempo... passa.

28 de abril de 2011

Nosso



Soundtrack: Ingrid Michaelson - Keep Breathing

Acordo antes de você e olhando para o lado te vejo dormindo com meio centímetro da coberta que eu roubei pra mim durante a noite. Te olhando ali, encolhido, com o cabelo todo bagunçado, a chuva se fez uma trilha sonora de filme. Mais precisamente daquelas cenas em que a mocinha se descobre completamente apaixonada pelo mocinho. Olho para o teto, tentando me enganar, mas os olhos desviam e volto a te encontrar na minha direção, com a cara toda amassada entre as listrinhas do travesseiro. Fico ali esperando você acordar e sorrir pra mim, preparada pra conhecer o seu olhar de bom dia. Enquanto isso, penso nisso que você criou dentro de mim. Essa sensação de água depois de um prato salgado, essa sede com alívio puro do ser feliz com pequenas coisas. Como quando no meio de uma conversa você sabe fazer uma piada de algo que já aconteceu e eu, lerda, sempre fico alguns minutos tentando entender. Como quando em meio aos detalhes você coloca a mão na minha perna enquanto dirige ou beija todos os dedos da minha mão, te fazendo ser o cara mais charmoso que eu já conheci. Como quando você me abraça 5 minutos antes do filme começar, sabendo que eu não vou mais prestar atenção em quase nada do que você fizer depois disso. E ainda me perdoa e parece que sorri pra mim com seus olhos, que eu adoro. Penso então no modo com que eu rio ao seu lado, com você fazendo música com a atendente da farmácia, dançando tango no corredor ou fingindo de habib com um lençol enrolado na cabeça. Penso em duas palavras perigosas e baixo a minha guarda. Descubro o quanto você mexe comigo e fechando os olhos assumo, pra mim mesma, que te amo. Sei de tantas pessoas que não acreditam no poder que isso pode causar ou que demoram a perceber e quando se vê passou. Sei bem que esse tal do amor não é muito justo, que pelo caminho a gente tem que saber escolher quais pedras são melhores de pisar e que nem sempre se acerta. Mas te vendo ali, dormir, não sei dar outro nome a isso a não ser esse. Então a gente não deixa passar e opta pela injustiça que ele tem. E como tem... Sinto isso quando você sabe tanto de mim, sem mal me conhecer e eu ainda me acho meio perdida, sem saber muito de você. Sinto isso quando você parece ter o poder de me olhar, examinar e ver quem eu sou de verdade, como desde o primeiro dia em que você falava as coisas parecendo que tinha uma colinha de tudo que eu penso e gosto, como seu primeiro olhar parecendo que já me conhecia. Enquanto você suspira dormindo, meu coração decide respirar em paz. O jejum da minha manhã acaba, alimentado por todos os sonhos que cabem ali, no espaço da cama, entre você e eu. Decido fechar os olhos de novo, não como se fechasse os pensamentos, mas como quem se abre e se solta para o que está além do que se vê. Então, novamente voltam as duas palavras perigosas e chego a pensar que tudo isso poderia ser pra sempre.

5 de março de 2011

Pessoas horóscopo



Soundtrack: Greg Laswell - And Then You

Não acredito em horóscopo. Mas meu signo é Câncer. Meu verbo é "eu sinto" e acho isso completamente esquisito. Coincidência que seja, eu realmente valorizo bastante o sentir das coisas. Aí pego aquela revista no salão e abro no horóscopo do mês: amor, amor, doação, sofre mulher! Quando não leio isso, vem algo do tipo: cuidado com a sua saúde. E sempre tem aquele medo de ler horóscopo velho porque dizem que atrai má sorte. Aí eu prefiro abrir um novinho em folha no twitter só pra ver no que vai dar. E lá vem. #Câncer: dia propício para boas relações. Cor: Azul marinho. Droga! Não tenho uma roupa azul marinho para sair conquistando boas relações. A verdade é que o horóscopo te faz ser uma pessoa generalizada. Você acorda e lê que o dia será lindo, enquanto aquela menina que dá em cima do seu namorado e trabalha com ele também é canceriana. Olha só: ela também terá um dia lindo, do lado do seu namorado! Nessas horas aposto que você pensaria o quanto os astros poderiam dizer: "canceriana que dá em cima do namorado da outra, dia de gripe, fique na cama, cuidado com a saúde". Mas é claro que isso não acontece. Aposto que você lê o horóscopo do dia que te diz para organizar sua bagunça interior e logo você pensa: meu Deus, feito para mim. Sou única e especial para os astros. E aí, amigão? E aí, amigona? Quem não sofre de bagunça interior? Que dia não pode ser especial para se conquistar novas e boas relações? Algo do tipo: geminianos, chorem?! Hoje é meu dia de ser simpática porque os astros disseram e permitiram. Sofram cuidando da sua saúde hoje.
É, não acredito em horóscopo. Como não acredito em nada que não me ataque diretamente, mexa comigo, me faça sentir especial e nem preciso ser o Sol de todos os astros. Confesso que leio às vezes. Como, às vezes, também acabo aceitando as coisas que mexem com metade de mim. Eu me deixo ser lida, mas não mostro o rodapé de página. Famoso rodapé, aquele que os professores mais complicados exigem em cobrar nas provas. Se você leu, você faz a questão. Se não, você faz o básico. Fica ali na média. Na minha escola, não classifico como um aluno mal conceituado. Mas não abro vaga na minha iniciação científica. Não acredito em nada que não destranque minha alma, deixe os meus astros falarem. Não acredito em nada que não me faça respirar aliviada quando encosto no travesseiro sabendo que, ao fim do dia, pude ser eu, por inteira. Acredito no cheiro que fica nas mãos depois do abraço, nos detalhes, seja ao achar lindo um olho menor que o outro, seja ao brigar para que ele não fique corcunda e assim possa continuar maior que eu, alguns centímetros, até ficarmos bem velhinhos. Acredito no olhar único que cada um pode ter, sabendo-se quando está bravo, triste, feliz, com tesão. Acredito no nosso abraço no frio, sabendo que meus pêlos são arrepiados por natureza, mas que fico doente fácil e gosto de carinho. Acredito no sabor do beijo, seja de melancia, seja de canela, seja de pizza de frango. Acredito no silêncio que expressa, na respiração que fala, no oxigênio misturado com gás carbônico e perfume, roubado diretamente do nariz do outro. Acredito no sorriso, não porque tudo fica engraçado quando se gosta de alguém, mas porque é fácil sentir coceira no canto da boca por qualquer coisa. Acredito na falta de planos, na fuga pra qualquer lugar, mesmo com a proporção de 10 pernilongos pra cada cm² do corpo. Acredito na sua voz do outro lado da linha, tentando dizer oi com mais animação, mas ainda demonstrando a sua falta de jeito que me faz querer te apertar a distância. Acredito no toque com cuidado, tirando o cabelo do rosto, no toque sem licença, tirando a roupa, despindo os olhos, unindo os ombros, os queixos. Unindo as diferenças, semelhanças, duplicidades. Unindo as àguas, provocando reações. Acredito no único, na permanência, no inconfundível. Não acredito em "pessoas horóscopo". Generalizadas, pormenorizadas, que precisam de chamados astrólogicos para que se chamem para tudo que envolve viver. Que precisam de uma única cor para um dia, enquanto posso me pintar de todas ou ser charmosa usando verde cor de limão.
Nasci no dia 10 de julho. Segundo meu signo, meu verbo realmente é eu sinto. Mas tudo o que eu sinto, posso falar e fazer por mim mesma. Melhor ainda, com você ao meu lado.

4 de janeiro de 2011

Morar



Soundtrack: Patrick Watson - The great escape

Lembro o jeito que você arrumou meu cabelo caído no rosto e com a sua mão direita, firme, levou minha cabeça pra bem perto do teu pescoço. E me aconchegando ali, ouvindo o barulho do vento, sentindo o cheiro do seu desodorante misturado ao da coberta guardada, fiquei pensando se seria mesmo você ali. Se era mesmo o cara sério que nunca sabia o que dizer quando eu vinha armada com as minhas palavras adocicadas. Que não gostava do meu silêncio e dizia "o que foi?", pelo menos 3 vezes, até eu responder "nada", mesmo sabendo da minha mania de olhar para o nada, em meio a tudo. Pensei se era você mesmo, que também ficou calado, sem levantar qualquer questão. Ali, encostada em você, senti medo. Medo de serem poucas as vezes em que você me levasse pra perto do seu cangote. Medo de ser sempre a única a buscar esse cheirinho que fica atrás da sua orelha. De ser sempre a única a querer alugar essa casa que fica logo aí, na curvinha do teu pescoço. Medo de nunca receber auxílio da imobiliária, de não saber nem se tem goteira na casa e ter que descobrir tudo sozinha. Senti medo de você não ter medo de me perder. De você quase nunca falar nada e ainda assim eu te querer. Mas quando você respirou fundo, percebi que talvez não só eu estivesse pensando. Percebi que você parecia eu. Era o meu ritual em você. Olhando para o nada, pensando em tudo. Ali, encostada em você, me senti pequena. Quis ser algo avassalador e mal conseguia te ouvir dizer: "eu também te amo". Via seus lábios mexerem, mas sem qualquer intenção de alguma palavra sair. Eu era a louca, corajosa que dançava com o seu pai, que abria mão do salto alto e cantava as músicas altas no seu carro, mesmo te vendo fazer aquela cara chata. Mas eu mal conseguia te fazer cantar comigo. Eu mexia com todos e você atrás da fronteira. Eu encostava no seu ombro depois de você me levar até lá e ainda assim, te via atrás da fronteira. Só que o mundo parecia chato antes de tudo isso, mais até do que algumas das caras que você faz. Era chato não ter a expectativa do momento em que você fosse dizer algo repentinamente e me fizesse sorrir, feito boba. Era chato não doar meus olhos para alguém, teria sido um pecado não ter conhecido o sorriso mais lindo do mundo. Seria estranho sem o cara estranho e então te adotei. Lá pela quinta respiração funda, enquanto eu ajeitava as cobertas, você soltou um "o que é o amor pra você?". Talvez amor fosse eu aceitar nossas diferenças, querer descobrir suas goteiras sozinha, sem maiores informações da imobiliária. Talvez amor fosse me dispor a ir até o seu ombro, mesmo quando você não me levasse, por saber que os pêlos do seu braço arrepiam quando respiro perto do seu ouvido (e você gosta). Talvez amor fosse descobrir os seus sinais, crer numa hora em que a fronteira vire horizonte. Tudo é questão do tempo e de tempo. Talvez amor fosse isso e mais coisas que eu realmente não poderia explicar. Então me calei, sem responder.
Sem classificar tudo isso em durável ou não, sei que sou a teimosa que mais te quis colocar na lista dos verdadeiros amores da vida. Sei que um dia talvez ache alguma mudança aí dentro de você que eu pude fazer, seja ao se ver cantando alto enquanto dirige. Descobri um jeito de não perder a fé nas pessoas. A cada vez que chego a beira de uma explosão, com direito aos meus cacos de vidro humano, me lembro de você. E de como nesse dia, enquanto eu pensava me sentir pequena, nada avassaladora, pouco eu, você lá pela décima respiração funda disse: "isso não tem que ter explicação, eu te amo e é assim". Eu me calei por alguns segundos. Surpresa, ri e disse: "é, é assim". Deve ser assim mesmo. A questão é que eu ainda estou aqui. E sem explicações, tenho amado morar no seu cangote de gente diferente do que eu sou.