23 de dezembro de 2008

Pedaços de mim num pedaço de papel


Soundtrack: Glen Hansard - All the way down

Essa carta não será demorada, só se faz necessária, porque alguns bons meses já se passaram desde que nos falamos pela última vez. Hoje, depois de tanto tempo, decidi mexer em algumas coisas tuas que ficaram aqui, alguns presentes, na esperança de ver tudo e não sentir nada. Bobagem! Ainda que eu encha meus dias de mantras, te chamando de infantil... Ainda que eu arranje mil ocupações durante a semana para não pensar em você... Não consigo esquecer de nada. Tudo que eu queria era ter você, infantil, andando por aí de mãos dadas comigo. Sabe? É como se as lembranças fossem papéis na parede e quando eu decido tirá-los de lá, eles saem, mas as fitas adesivas continuam coladas. E o perigo de também tentar arrancá-las é que posso estragar a parede. Assim é com a nossa história! É como se eu tentasse tirar você daqui de dentro do peito, mas tivesse medo de ficar com o coração estragado, como a parede. Então te deixo aqui, passo uma camada de tinta para disfarçar o defeito, mas fica mais feio ainda e mais visível.
Isso tudo ainda é muito estranho para mim. Me pego pensando em você nos momentos mais imprevisíveis, como quando vou tentar abrir um saquinho de catchup. E começo a me questionar de como você possa estar. Se você continua mordendo os copos de plástico nas festas quando tem vergonha, se você ainda gosta de usar meias brancas, se ainda usa a camisa que eu te dei. Se você ainda faz aquelas aulas de inglês a noite, que te cansam tanto, se continua nadando e lendo poucos poemas. Não sei se ainda é azul sua cor preferida, se aprendeu a dançar forró, não sei se ainda me ama, ainda me quer. Não sei se ainda chora ouvindo nossas músicas... Não sei se sou eu, não sei se é você. Só sei seu endereço e por isso mando essa carta, pois nem olhar no teu rosto, sem tremer de angústia, eu consigo. Enfim, eu nem precisava de tantas palavras. Não espero notícias, nem você eu espero mais... Já me acostumei a esse silêncio, sem tua risada, sem tua voz. Esse silêncio que fala, que me manda ter saudades, mesmo sem nenhuma mensagem na caixa postal. Bem, só queria te dizer: feliz natal!

16 de dezembro de 2008

Dois gumes


Soundtrack: A Fine Frenzy - Near to you

E sempre fica a pergunta: onde estava o problema? O problema era gostar demais, sonhar demais, ser diferente demais? O problema era ser sensível, era não conseguir esconder o que sentia? Não! O problema era o fim e o fim é isso. O ponto final! É o momento em que sobram papéis a espera de palavras de amor e os ouvidos se acostumam com o silêncio, ainda que sintam falta do “te amo”. O fim chega quando você se pega na chuva tentando fazer a pessoa aparecer ali ao teu lado de novo, numa espécie de mágica. O fim nos chama a vê-lo quando o telefone não toca, a mensagem não chega, o sono não vem. O fim chega quando some o brilho do olhar e você não sente mais a mão suada, por passar horas compartilhando da palma do outro. Ele vem quando não tem ninguém para cantar aquela música no teu ouvido, para fazer aquela brincadeira batida ou então te fazer raiva só para depois dizer como você fica linda brava. O fim chega quando se começa a dar nome a tudo... E aí perde o sentido. Ele dói e grita por dentro quando ao espalmar o teu lado só sobe poeira. Mas às vezes, o fim não permanece como culpado por muito tempo. E entra em cena o recomeço, que já chega deixando o palco do coração de cabeça para o ar. Ao primeiro sinal, já te faz pensar que tudo vai ser como antes e então se começa a não ver cura e ao mesmo tempo, não ter vontade de esquecer. Começa a fazer retroceder os dias e a cada manhã sobrar a imagem do sorriso, a sensação do toque. Induz-te a fazer planos e te deixa lá na chuva de novo, com o sorriso no rosto. Enche-te de fé, te faz se manter viva, bonita e até faz adiantar o relógio, arrancar a folha do calendário um mês antes para passar logo o momento do encontro. O recomeço vem e pode ficar... Ou vem e perde o papel. Perde quando recomeçar transforma-se em comodismo. Acomoda-se ao passado e não se tem mais vontade de construir futuro. Acomoda-se às lembranças e não se colocam fotos no álbum novo. Aí o cheiro vai sumindo, a chuva não cai mais, a mensagem é esquecida e o verbo amar que tanto era prezado, vira precipitação. Dessa vez, você entra em cena, sozinha, e o palco é esse mundo louco. A culpa não é de mais ninguém, a não ser daquilo que ainda te faz encontrá-lo.

12 de dezembro de 2008

Ciclo das palavras


Soundtrack: Ben Harper - Waiting on an angel

Dizem que nessa vida cada pessoa que passa por nós vira uma palavra. Acredito também que cada momento também possa ser uma palavra... Mas talvez a minha palavra de sempre, de todo momento, seja adaptação. Tive que me adaptar à várias coisas. Adaptar a enxergar diferente, me adaptar a colocar o copo de um outro lado durante a refeição. Me adaptei a ser verdadeira e diferente do mundo, não quis me adaptar a ser mais uma. Me adaptei a arrumar minha própria mala e confesso que demorou para eu me adaptar a limpar meu quarto sozinha. Me adaptei a outros ares e acabei me adaptando à ideia de que em cada lugar que se passa, você deve deixar sua marca, nem que essa seja o nome da sua cidade. Me adaptei a idéia de que as pessoas mudam e esquecem de avisar, então você tem que se adaptar a elas de novo e quando você não consegue mais, dói. Dói também(senão mais) quando elas não querem que você se adapte e aí você só fica com o tal do "estar perdido". Me adaptei a pensar que algumas pessoas realmente acabam indo embora, mas elas só se vão definitivamente porque a gente deixa. E é tão melhor pensar que vão porque deixamos... Mesmo que no fundo saibamos que elas vão porque querem. Me adaptei a acreditar no destino e assim fui me acostumando com a idéia de que podemos estar do lado errado, mas estamos do jeito certo, talvez só vamos demorar a entender o porquê de tudo. E sinceramente, às vezes o melhor é nem saber. Acabei tendo que me adaptar com a falta, de pessoas, de momentos, de partes de mim. Mas a verdade é que sempre vai faltar aquele buraquinho a ser completado em nós. Sempre vai sobrar aquele buraquinho, que depois que tudo passa te faz ver o quanto era necessário, a partir do momento em que por ele entrava o ar que lhe era preciso para viver. E assim, nessa parte do ciclo, adaptar é a palavra do momento e saudade é a tua palavra.

9 de dezembro de 2008

Por enquanto


Soundtrack: Colbie Caillat - Realize

Hoje eu queria acordar com um beijo teu, na face, na fronte, na boca. Hoje queria aquele mesmo céu sobre nossas cabeças e queria uma chuva de selar amor. Ah, eu queria sim! Chuva de deixar nossa roupa molhada, coração limpo, sorriso no rosto. Hoje eu queria madrugada e se deixassem, queria até chegar aurora. Hoje queria sair por aí com você, queria dividir meu passo com o teu, andar no mesmo compasso e nem precisava ser de mãos dadas. Bastava encostar em teu braço de vez em quando, só para sentir que você estava ali mesmo. Hoje queria chegar em casa e ao tirar a blusa, sentir que teu cheiro passou para ela, para mim, com teu abraço, o teu melhor abraço. Hoje queria te ligar, contar dos meus problemas e depois de 15 minutos, ter você entrando pela minha casa e dizendo que me ama, em plena terça-feira, com aquele beijo na porta e teus olhos. Hoje queria rir com você de coisas que só a gente entenderia. Hoje queria deitar no teu colo e ver um filme da época em que você era pequeno, imaginando como seria o nosso filho. Hoje queria tua fé em mim, queria tua confiança, queria teu afago. Hoje queria guardar teus medos numa caixinha, queria o som ligado na nossa música para o mundo inteiro ouvir. Mas falta você... E, assim, todos os dias o "eu te amo" esquece da distância e espera. Vira começo para cada ausência, vira recomeço para tudo que sinto por você! E que não acaba. Nem se hoje eu não acordar com um beijo teu, na face, na fronte, na boca...

2 de dezembro de 2008

Penso que...


Soundtrack: Coldplay - A message

Não sei mais escrever. É como se sentisse que não tenho mais as palavras correndo pelas veias. Eu me sento, os dedos coçam, mas não sai bonito. Não soa bonito! Não igual a você... Não corre macio como teu abraço, não é claro como teus olhos, não é como você merece. E nem sei se isso que escrevo é algo que se mereça... Nem sei se soam bem tantas palavras assim, sentimentais, lacrimosas, que chegam a ser tolas. Palavras que pelas linhas ecoam de saudade, de raiva do tempo que ainda te coloca aí, tão longe. Raiva do tempo que te faz fonte, que mais me bebe do que mata a sede! Tempo que nos faz seguir em círculos, nessa dança de verdades e mentiras, nesse invento de vida um sem outro, nessa falta de conclusão dos planos. Só sei que as palavras sumiram, escorreram pelos dedos, fugiram e agora não sei quando voltam. Como no outono em que as folhas fogem para não gastar a energia das árvores, talvez as palavras fugiram para não gastar mais esse amor. Pode ser que a estação seja duradoura... Mais um ano, quem sabe?! Vou precisar me acostumar mais uma vez, a ficar sem palavras, ficar sem você, ficar sem nós. Talvez eu ainda saiba fazer aquele bolo que você gosta... Mas a verdade mais precisa é que eu ainda te amo. Te amo sem saber escrever, sem saber fazer teu bolo, sem saber te amar. E mesmo sem nossa história merecer tudo isso, eu sei que te mereço, você me merece. Nos merecemos sem fim, enfim.