26 de junho de 2008

Fel

E então Luíza se cansou. Se cansou do branco das paredes, dos dias frios, da neblina que insistia em pairar por todas as manhãs. Cansou do taco da sala, da poltrona velha. Cansou da falta de atenção, da repetição, do gosto do chiclete. Cansou de falar e ao mesmo tempo cansou do silêncio. Luíza esquecera como era sonhar, esquecera como era contar os minutos, agora vivia perdida nos dias. Até que decidiu ir embora e foi. Luíza tinha escolhido a ilusão e ilusões nunca duram muito tempo. Ninguém mais a viu... Corre o boato de que depois de chuvas de granizo ela sempre volta pra tirar as pedras de cima do carro dele. Na verdade, ela foi embora. Quem volta é o sentimento.

16 de junho de 2008

Lágrimas de super-bonder

Ela tocou a campainha. Os olhos vermelhos condenavam que tinha chorado, mas ele tinha que entender. Ninguém atendeu. Pensou em ir embora, pensou que até fosse um sinal, mas não acreditava nisso. Na verdade, ultimamente ela deixara de acreditar em muitas coisas. Só tinha a certeza de que não deixara de acreditar no que sentia, mesmo sabendo que isso deveria ser o melhor a se fazer. Decidiu ir embora, desceu uns dois andares de escada e parou. Ela não podia desistir agora... Ele tinha que entender. Voltou e tocou novamente a campainha. Esperou e a porta se abriu. Quando o viu ali, parado em sua frente, não sabia o que fazer. Até tentou sussurrar algumas poucas palavrinhas, mas elas não passavam pela garganta seca. Por um instante passou por sua cabeça beijá-lo, chegar bem perto e sentir seu cheiro, como sempre fazia... Só que seria tudo muito clichê e ela sabia o quanto ele odiava os clichês. E então, num gesto simples estendeu na direção dele um objeto vermelho, cheio de rachaduras, que parecia ter sido quebrado e depois colado com super-bonder.
-Toma. É todo teu!

14 de junho de 2008

So don't go away...

Passou a tarde toda na cama. Até que decidiu se levantar. Pegou uma garrafa de vinho, vestiu a meia colorida e colocou uma música pra tocar. Começou a andar pelo cômodo imaginando que ele estaria ali em sua frente, com sua camisa que combinaria com a cor do vinho. E em meio à andança, partiu para a dança. Levemente, suavemente, ela deslizava pelo taco abraçada dele. Quanto mais perto ficavam um do outro, surgia a sensação de que a música ia ficando mais baixa, de que a luz ia se apagando, de que o mundo estava parando de rodar. Eram sensações inexplicáveis! Eram, porque a última frase da música anunciava o fim da dança... O mundo voltou a girar e ela se lembrou de que estava sozinha no apartamento. Não tinha ele, não tinha toque, nem dança. O que restou foram lembranças, um recado num papel, tempo de sobra, a tal da saudade e meia garrafa de vinho.

3 de junho de 2008

Caminhos opostos, dispostos a caminho...

Eles eram sempre unidos. Sempre apaixonados. Sempre em sintonia. Tudo que um dizia, o outro sabia bem como completar. Tudo que um precisava, o outro sabia como ajudar.
- Eu amo você, Ana!
- Não mais do que eu te amo, João!
Passavam-se meses...
- Eu amo você, João!
- Não mais do que eu te amo, Ana!
Até que um dia João disse que ía embora. E ficou esperando o pedido de Ana para que ficasse com ela. Quando foi pegar o taxi, Ana pegou outro e nunca mais se viram.