24 de maio de 2012

Se é possível descrever...

O Medina do Los Hermanos propôs no seu blog um modo dos fãs compartilharem suas emoções antes, durante e depois do show dos caras. Então, decidi arriscar (ao meu modo) e também compartilhar com vocês. As partes em negrito são as frases obrigatórias durante o texto.
Em nome do Los Hermanos, hoje o Sentimentolices brinca de ser feliz (e pinta o nariz) pra palavrear o sentimento da autora desse blog depois do show mais esperado da sua vida em Belo Horizonte. 


Belo Horizonte, 19 de maio de 2012


Na verdade, pra mim esse show começou muito antes do que quando de fato ocorreu, mais precisamente quando eu (agradecidamente) nasci numa família de músicos. Certo dia, a banda do meu pai, estilo "toca de tudo" recebeu um pedido do público pra que tocassem "Anna Júlia" num dos shows. Sou do interior de Minas e quando aparecia algo diferente do habitual o questionamento era sempre esse: essa música já chegou aqui? No ano de 2000, eu com meus 9 anos de idade, conheci o famoso pedido. Lembro da música, enfim, ser tocada nos shows e do refrão entusiasta que levava todo mundo a cantar junto (até George Harrison). Confesso que o tempo passou e esqueci quem era Anna Júlia, por isso mesmo o show começou antes mesmo de eu imaginar. Por sorte, em 2004, tive a Ventura de me tornar mais próxima dos Hermanos. Foi quando, já mais velha, depois de doses cavalares de musicalidade dentro de casa, aprendi o valor de harmonia, letra e sentimento. Me apaixonei, essa é a verdade. Mas com 14 anos de idade, dizer "mãe, me deixar entrar num ônibus e ir atrás desses tais de Los Hermanos" era pedir pra ganhar não. O tempo passou, as músicas enfiaram na cabeça a ponto de cantar os metais da banda junto com o cd (algo típico dos fãs). E em 2007, eu, numa cidade pequena, ganhei um prolongamento nas reticências da espera por ouvi-los ao vivo. O fim da banda gerou a busca por covers em Juiz de Fora, Belo Horizonte, Uberaba e só alimentava o sonho de poder me emocionar com um show de verdade. Até que no dia 15 de novembro li no blog do Medina "2012 será o ano de turnê do Los Hermanos". Os olhos brilharam e desde então o tempo voou. Esperar pela meia-noite do dia da venda de ingressos foi como esperar pelo DVD do "Cine Iris" de presente de aniversário. Ingresso garantido, passagem comprada, todas as músicas decoradas  e então finalmente era chegado o dia do show. Assim que entrei no local, observando a plateia, logo percebi que aquela noite seria Sentimental. Depois de subir as escadas, que davam pro segundo andar do Chevrolet Hall, estar ali era como entrar num banho depois de um dia cansado. Era se iluminar com os sorrisos dos outros, que se misturavam aos seus, que embalavam os gritos de espera, que tomavam conta das batidas do coração. Estar ali era ser tomada por uma vontade de não sair antes mesmo de começar. Sem me preocupar se eu estava longe de ver a barba do Camelo, as danças do Amarante, o sorriso do Medina, a seriedade do Barba... Sem me preocupar se eu estava amassada em meio a tantos corpos, estar ali era simplesmente esperar por um sonho. Após alguma espera, a expectativa só fazia aumentar, até que finalmente a banda surgiu no palco e o que aconteceu deste momento em diante poderia ser descrito como permitir uma graça que só a música nos dá. Não conseguia ouvir o meu grito, que virou um grito único de milhares de pessoas. Descobri o poder do corpo humano por não ter meus dois pulmões expulsos do corpo junto com um coração que acelerava a cada "uh, los hermanos, uh los hermanos". Era como se todos pedissem pra que tocassem logo, depois de anos de espera. Era como esperar um presente... Logo quando começaram a soar os primeiros acordes da música de abertura, a impressão era a de que aquele lugar havia se transformado em um sonho, enfim, palpável... Enfim, audível. Eram sonhos reunidos e isso dava ao solo de "O vencedor" uma impressão de hino nacional da nação Hermânica (pra não dizer, Hermaníaca). "Olha lá" nunca teve tanto peso no meu peito. Bateu e saiu pelos olhos. Os versos seguintes foram acompanhados de um choro sincero, um choro agradecido. Não um choro vinculado somente à imagem de tê-los ali, mas também vinculado ao som, as guitarras, as batidas, ao teclado, aos metais, ao que eu chamo de prazer auditivo. Lembro de olhar pra minha irmã numa passada de olhos e vê-la emocionada ao me ver ali, totalmente entregue a um encontro esperado por anos. Nos segundos de solo, pude lembrar de nós duas brincando no carro durante uma viagem "fala um show que você sonhou ir". E enquanto ela dizia artistas mortos, eu respondia: Los Hermanos. Vivos e únicos, porém parados. Enquanto as lágrimas desciam paradoxalmente, o sorriso abria e o show foi seguindo seu curso, tendo o repertório passado por todos os discos lançados. Agora, sem dúvida, o melhor momento da noite foi quando ouvi Primeiro Andar. Como orar durante as noites, o meu reflexo foi fechar os olhos e esquecer tudo que existia a minha volta. Mesmo estando no segundo andar do Chevrolet Hall, consegui conhecer algum terceiro andar que fica por aí. Me enchi de todo o sentimento e acho que refleti tudo que ela significa pra mim. Quando perdi meu pai, o mesmo que me ensinou tudo que eu sei da música, Primeiro Andar era um mantra pra que meus dias fossem recheados de coisas boas e que assim eu contasse pra ele, em algum lugar, "quem vai saber?". Assim como acho que agora, escrevo e conto o que eu vi pra ele também. Acho que ele me viu, guardando um sonho bom, vivendo esse sonho. E quando tudo parecia estar terminado, ainda havia o bis e "Tenha Dó" tomou conta das minhas pernas e braços, me tornando mais uma "Bubu dos trompetes" que se fez ali. Lembrei de quando eu dançava essa em casa, sozinha e foi como imaginar tantos outros que deviam fazer o mesmo podendo dividir comigo aquele momento. Euforia total do primeiro acorde, passando pelo refrão até o "laraiá" final. Depois de quase 30 músicas, "Pierrot" sinalizou o fim da festa. As luzes se apagaram e a turnê seguiu adiante, para outras cidades. No futuro, quando for contar as pessoas como foi o show, vou dizer que essa noite será sempre lembrada por ter sido a demonstração da alegria simples que é estar diante da realização de um sonho. Cada minuto, cada momento, teve um tom especial, um dom de saber envaidecer por se saber que ouvi-los ao vivo era tão melhor do que qualquer sentimento imaginado. De modo engraçado, quando os músicos deixaram o palco com o final do show, soltaram aquela música "Não se Vá" da Jane e Herondy e nunca cantei com tanto apreço algo que queria dizer pra cada um deles: "não se vá, não me abandone por favor, pois sem você vou ficar louco". Não sei se louca de saudade, não sei se louca de vontade de dizer "obrigada" repetidas vezes ou de ver muitos outros shows, ouvir muitas outras músicas, mas sei que sempre louca pelos meus Hermanos.

11 de maio de 2012

Do fundo do meu coração



Soundtrack: Adriana Calcanhotto - Do fundo do meu coração

Possibilidade deveria vir com bula. "Recomenda-se pés nos chão durante todo o uso. Evitar super dose e não misturar com o sentimento dos outros. Aplicação oral". Acontece que entre um lance e outro de uso, a gente se engana. Tomar a possibilidade é simplesmente não tomar nada, além da dúvida. Efeito placebo. Acontece que entre uma dose e outra sempre cabe um pouquinho de invenção, saudade, planejamento. E sobra espaço pra se decepcionar. Sobra espaço pra se esperar por alguma coisa que caia do céu, uma resposta mirabolante,  um momento especial capaz de transformar totalmente o foco da situação, capaz de levar a gente junto.
Fiquei pensando no que essa vida promete pra gente. Se é algo contagiante a mania de me enfiar em coisas idiotas, de insistir em pensar o que eu quero de você, sem nem saber o que eu quero de verdade pra mim. Não sei se isso é medo, se tem alguma relação com minha desconfiança até de tentar atravessar a rua quando o sinal está amarelo. Não sei se tudo só parece sair do lugar sem girar ou se por tudo realmente ter girado, você saiu do lugar em que eu te encaixei (ou do lugar onde talvez você nunca coube). Me diz então, como é que se espera por algo que não chega? Onde é que eu caibo nessa história? Quando é que eu fico doce, deito na cama e vejo a beleza de estar sozinho? Me diz como se olha pro teto sem parecer que ele está prestes a cair? Me explica como se diz boa noite sem a impressão de que o dia se encheu de coisas prestes a explodir num simples fechar dos olhos? A questão é que essa cena tá velha: as pessoas mudam e mentem. E nessa urgência de verdade a gente opta por qualquer caminho, independente do destino. Até cair de novo em visões paranormais do que se pode ser, de coisas que podem aparecer ou simplesmente desaparecer. Até se entupir, até se esvaziar.
Não menti, eu assumidamente te quis e até tentei te procurar depois de tudo, mandei uma ou duas mensagens, sem resposta. Na teoria, penso em você confuso, sentado no sofá, numa sexta a noite, pensando "meu Deus, o que se passa na cabeça dessa menina? Como ser sincero e não parecer um babaca?". Na realidade, vejo você parar qualquer coisa que está fazendo, ler a mensagem e jogar o celular num canto, solubilizando no silêncio todo o remédio da possibilidade. Vejo você se dissolver entre as minhas veias, artérias, oxigenar meu cérebro, dar um "barato", até ser eliminado pelos olhos. Talvez seja isso, não tem como explicar, às vezes acabamos sozinhos por acreditarmos muito na hora errada e ficamos olhando pro teto, olhando pras pessoas, colocando vírgulas no caminho. Ou tentamos nos apegar à ideia de que quando menos esperarmos algo vai acontecer e enfim vamos assinar um contrato vitalício com a verdade, mesmo que seja até amanhã de manhã, mesmo que a gente continue com medo de atravessar a rua com o sinal amarelo. Acho que essa história acabou de perder o poder. Dissolveu, feito seu silêncio, feito a nossa mentira. Enfim, chegou nosso dia de contrato vitalício com a verdade, sendo que ela agora já não importa tanto mais, importa? Nossa verdade veio com o tempo e a partir de agora, vai embora com ele. Estar longe é quase esquecer.