29 de janeiro de 2012

desAcostumar



Soundtrack: Adele - Lovesong

Olha, passei o dia todo tentando desviar o pensamento de você, de qualquer resposta sua que caia do céu, enquanto a única coisa que me aparece é uma chuva boba, que faz um barulho gostoso na janela e que me tira a coragem de sair na rua. Eu sei que o ano novo sempre chega com promessas novas, com desejos diferentes, de mudança, renúncia... Alguns planos nascem e outros morrem diante da nossa pormenoridade de precisar de datas fixas, como começar dietas em segundas, como prometer esquecer uma pessoa depois do domingo. E de uma forma hipócrita eu sou essa pessoa, que aumenta seu prazo de validade mesmo quando você some o final de semana inteiro e me aparece na segunda de manhã, com uma mensagem falando do meu sorriso. Eu esperei seus beijos telepáticos, esperei sua presença e dormi sozinha antes de olhar o celular pela última vez. Eu quis entender o que era saudade pra você, que me procurava dizendo isso, mas que parecia não entender o vazio que é isso. A gente não sente saudade de andar de mãos dadas, a gente não sente saudade do sexo, isso é um costume que se desacostuma. A gente sente falta é da nossa mão junto da mão dele, do nosso corpo junto do corpo dele, porque se saudade não tem sujeito, a gente sente de qualquer um. A gente sente falta é de presença, de atitude. E quando falta, quando a gente está no carro, no meio de um trânsito e não tira o pensamento do jeito que ele sorri mais pra um lado, aí sim você manda uma mensagem e diz: tô com saudades. Eu quis ironizar o amor, parecer durona, mas quando eu ouvi aquela piada que você sempre conta na mesa de um bar, a minha vontade foi me esconder no banheiro pra não ter que ver o amor rindo da minha cara ali mesmo. Faço desse nosso jogo uma coisa indiferente para os outros, finjo que meus sinais vitais estão no pico mais elevado. Coração batendo forte, saio, bebo, distribuo sorrisos, canto que "hey, hey, estamos aí pro que der e vier", chego em casa e abraço minhas pernas. Nada deu, nada veio. Acho que não sei ficar sozinha. Admito. Mas não consigo admitir que eu não quero ficar mal acompanhada. Não tô afim dos seus pedaços, que sobram depois de uma semana em que você se ensopa com outros assuntos e eu fico aqui, seca. Mas também não sei conter a ansiedade quando meu celular faz aquele barulhinho de mensagem. Por isso, vim te procurar com um plano pra que eu não precise lembrar de você só com disfarces tecnológicos. A ideia parece simples: vamos nos aceitar, com toda essa bobagem de ser feliz do jeito que dá. Eu não sei mesmo o que me faz falta, mas já entendi que por agora, você se encaixa nesse quesito. Já entendi que algumas coisas não são certas, nem são erradas, algumas coisas são só momento. Sei lá porque você apareceu agora, lindo assim com esse óculos, essa barba, esse... Enfim, esse é o momento e vai ter que valer pros dois lados. Faça alguma coisa valer a pena, faça a minha cama amarrotada por mim mesma, de tanto rolar de um lado pro outro, valer a pena. Não me prometa felicidade, me prometa presença. Não quero essa saudade que você diz sentir, quero só meu coração sossegado enquanto deito no seu ombro. Não somos a história mais bonita, não vamos ter um livro pra falar de nós, você não é o último homem da minha vida, então vamos nos aceitar essa coisa torta, esse "sim" disfarçado. Você é má companhia, mas meu coração é burro. E até ele acordar pra isso, seja lá como você queira aparecer, só apareça. Porque hoje é domingo e amanhã é segunda... Um ótimo dia pra começar promessas desajeitadas.