Soundtrack: The Head and The Heart - Rivers and Roads
Quantas vezes a sensação de que o mundo parou pode caber em
uma vida? Pensamos que a raridade desses momentos acaba equivalendo à capacidade
de sentir as coisas intensamente, ao ponto de tudo parecer pequeno e efêmero
diante daquele “timing” – o tal nem antes, nem depois, a tal exatidão. Mas
descobri a real diferença entre as duas coisas. Costumava classificar meus timings
em momentos superestimados por mim, seja para a alegria, seja para a tristeza. Esses
momentos, de cinco segundos ou mais, onde tudo que se vive é a sensação devastadora
de que algo em nós se desprende e fica do lado de fora, gravando o que estamos
vivendo. Mas, a sensação de que o mundo parou pode ser cruel quando não
aprendemos a diferenciar a intensidade do que elas podem representar. E aí vem a
diferença. Nesse lapso que são as memórias, essa sensação chegou nos dias em
que eu pude sentir como somos realmente carne, ossos e intermináveis portas
sensitivas. Seria basicamente impossível não dizer que os meus verdadeiros
timings aconteceram nos momentos mais intensos da minha vida. Mas descobri que,
na verdade, meu mundo também pareceu parar naqueles momentos mais simples, que
cabem dentro das grandes coisas. Lembro-me de tudo parar quando, sem ver, tocaram minha mão sem querer ou em meio a olhares sem contexto, daqueles que
são tão curtos, mas que é possível se enxergar ali, dentro da pupila do outro.
Meu mundo parou também na simplicidade de alguns fracassos, como não saber dizer
tchau, como não saber o que falar diante de algo ou diante de alguém que não
falou o que eu queria realmente ouvir. Ele parou quando tão rapidamente
planejei um sonho inteiro para minha vida, junto de um pôr-do-sol inesperado,
de um vento no rosto num dia cansativo...
A verdade é que percebi que para que o mundo realmente dê
uma daquelas paradas que fazem diferença, é preciso estar acompanhada da
reciprocidade. A vida já é muito insinuadora de sentimentos pequenos com cara
de companhia ou de ausências que nos acompanham mais que a própria sombra. Concluí então que é preciso escolher bem o que seremos nesse caminho
desavisado. É preciso decidir o que realmente tem o poder de, em cinco segundos
ou mais, dar um stop em tudo. Então, esqueça
a intensidade. Esqueça as velhas histórias de que quando o mundo parar, saberemos
que estamos num caminho certo. Esqueça o tal “isso é um sinal”. Só faça questão
de que, naquele momento único, você tenha alguém inteiramente disposto a dançar,
com os pés, a cabeça e o coração... Ainda que seja a sua própria companhia. A
vida também tem disso - chama-se coragem.