29 de agosto de 2010

(In)visível



Soundtrack: Maxi Priest - Fields of gold
Incrível essa sensação que toma conta da gente, né? Por tantos dias, mal sinto sua presença, como se você fosse inconstante demais pra que eu possa te sentir, te ouvir, pra que eu possa captar sua frequência. Mais incrível ainda é a nitidez com que, por alguns momentos, ouço sua voz. Sinto uma sede danada de você e começo a te buscar nas coisas a minha volta, tentando adivinhar de que buraco fundo daqui de dentro vem esse eco que é teu. E que só pode ser o teu. Ninguém mais teria essa voz... Ninguém mais saberia tão bem como dizer meu nome, como sussurar para que eu não consiga escutar de onde vem a voz, fazendo com que eu realmente não ache esse buraco e aceite sua falta. Aceite que você já faz parte do que sou, mesmo quando eu me esqueço de mim e te perco por entre os fios do meu cabelo, ainda que eu saiba que tuas mãos os tocam dia e noite. Mesmo que às vezes eu me cegue com outras coisas, aceito que só o fato de ver a tua letra me faz imaginar os traços do seu nome, os desenhos do seu sorriso nos meus olhos. E aceito que mesmo quando meu nariz se entope com os ventos que trazem a ausência, ainda posso sentir teu cheiro... Esse cheiro de um dia meu.
A verdade é que você cresceu demais, seja lá em qual buraco de mim que tenha o teu nome. Você cresce mesmo se não te rego, mesmo sem eu saber se te conheço mesmo. Não sei se você é inquietação de cinco horas da tarde no trânsito, se é serenidade de domingo a noite. Desconheço suas manias, suas histórias de infância e também não sei se você já acreditou em papai noel, coelhinho da páscoa, se um dia você já acreditou em nós. Mas ainda assim, te ouço e tenho tantas coisas para dizer que prefiro guardar, do que achar onde você realmente fica aqui, fazendo a resposta virar silêncio. Vou me distraindo com miudezas, cultivando coragem, esperando que o Sol ilumine esse mundo louco que possa ser o nosso. Talvez foi esse o seu jeito mágico de se declarar em mim, sua presença nessa vida que a gente mal nomeia como sendo nossa. E é teu esse sentimento intratável de angústia que vira paz ao mínimo eco, sussuro, suspiro. Respeito você amadurecer, espero as histórias que um dia virão, vejo as fotos que não tiramos, os beijos que não selamos, guardo as horas que um dia serão nossas. Espero você amanhecer em mim, espero o dia clarear nessa sua toca, seja lá onde ela fique, pois de uma coisa eu sei: ainda temos uma eternidade, menino.