2 de novembro de 2008

Parábola


Soundtrack: Other Lives - Black table

- Ah, quem te ensinou a ser assim? Como sempre tem razão ao me dizer não? Como sempre põe paixão ao me dizer sim? Por que tem piedade ao deixar-me um talvez? Para me ver aqui assim, perdida? Ah Vida, nesse caminho em que te fiz companheira inseparável parece que não me ensinas como romper do adeus! Já não aceito mais qualquer poeta, não respiro qualquer palavra, não assovio mais no ritmo antigo. Parece que fico a ouvir vozes me dizendo: vai, esquece, busca teu cais! Mas que cais? Nem barco tenho e aqui estamos, eu e você, a sentir enjôos do mar do esquecimento. Ah vida, que cadência é essa que marcas? Vou andando contigo, mas parece que só às vezes me vês aqui, nesse canto de sala, sabendo da troca dos meses somente por se olhar uma folhinha velha na parede. Na verdade, eu bem sei que não vais responder a essas perguntas, ficarás calada, me deixando ver esse espetáculo criado a cada dia, a cada amanhecer, a cada raiar. Mas acontece, que já se fizeram muitas manhãs e você só me mostrou que saudade pura não alimenta, nem se mastiga. Ah Vida, vai até lá e diz... Diz que não quero voltar, mas que por vezes ainda pego no vento palavras que, um dia, cheguei a acreditar que pudessem ser sem fim. Diz que ainda sinto o cheiro, ainda vejo o sorriso ao abrir a porta, ainda lembro das horas de poesia, das boas conversas, escuto até o silêncio. Diz que quando ele perceber que se encontra sem tino, poderemos nos encarar com sinceridade! E até lá a cadeira da amizade já estará acolchoada, nova em folha para ele se sentar. Mas por hora, Vida, peço novamente que me ensine como esticar as mãos para o adeus. Me ensina essa arte de outros encontros, pois ele já aprendeu. Pede o perdão se não gostei como devia e diz que perdôo por não me gostar como eu queria. E depois que o fizeres, volta e me diga: por que fazes isso com alguém que mesmo sem respostas não te largas as mãos? Por que fazes isso com tão bobo coração?
E prontamente a Vida respondeu, como se oferecesse rendição:
- Faço para que escrevas, menina!

4 comentários:

Alexandre Spinelli Ferreira disse...

A Poeta e a Vida

Ah, Vida
Por que ser assim
Razão ao dizer não
Paixão ao dizer sim
Piedade no talvez

Ah, Vida
Por que me deixaste perdida
Sem romper do adeus
Sem saber partir
Sem ter um cais para ancorar
Nem barco, nem mar
Só enjôos e abandonos

Ah, Vida
Por que passar o tempo
Só no calendário
E eu, perplexa
A cada amanhecer
A cada raiar
E o tempo escorrendo

Ah, Vida
Diz que não quero voltar
Diz que ainda tropeço
Em palavras mortas no chão
As mesmas que eram sem fim

Ah, Vida
Diz que ainda sinto cheiro
Vejo o sorriso
Ouço as poesias e as palavras
Ouço até o seu silêncio

Ah, Vida
Ensina-me a arte dos encontros
Perdoa-me se não amei
Que perdôo também

Mas, Vida
Mais do que tudo
Por favor, me diga
Por que fazes isso comigo
Com tão bobo coração?

Faço para que escrevas, Poetinha

Anônimo disse...

Muito bonito, adoro suas conjecturações e seus diálogos íntimos.
Beijooo. MUITO BOM

Jersica Paes disse...

Gosto tanto do que escreves, que sinto dificuldade em elogiar-te, menina! Qualquer coisa que eu diga poderá soar exagerado... Mas só eu sei o que sinto ao ler-te! Já sou tua fã... Bjs e até a próxima!

Anônimo disse...

elaia... eh bom conhecer uma menina talentosa...
iuahauiahui

MARAAA amiga!!!

ASS: parma ;)