11 de setembro de 2010

Mais uma vez



Soundtrack: Natalie Walker - Urban Angel

Queria te chamar de meu. Saber onde você está agora, pelo simples fato de que, sendo meu, seria preciso só olhar para o lado e ter seus braços como um travesseiro. Queria o frio com você todo desajeitado na intenção de me esquentar e não sabendo direito por onde começar a me abraçar. A gente correndo da chuva, você com medo de me atropelarem no meio da rua, me puxando feito pai e filha. Queria você ficando bravo com a minha falta de decisão, fazendo voz grossa só por eu não decidir qual o sabor da pizza ou qual música ouvir no seu quarto. Acordar com seu cheiro nos meus dedos, passar o dia com seu cheiro e nem me importar se sumisse, por saber que eu poderia ter você a qualquer hora. Queria você tirando a franja da minha cara, dizendo da minha falta de jeito pra andar. Sentir sua respiração bem pertinho do meu nariz, como se me falasse pra que eu te beijasse logo. Queria me pegar olhando pra você vezenquando e pensando o quanto você é lindo, até quando fica mostrando a língua e fazendo mil caretas. Olhar a sua cara de bobo, sabendo que seria só pra mim e pra mais ninguém. Queria que meu telefone tocasse no meio do dia e que só de ler seu nome na bina meu coração disparasse. Queria que todas as mensagens fossem suas e não da operadora de celular dizendo para que eu coloque mais créditos. Seu silêncio, suas vontades, seus receios, queria saber mais de você, mostrar mais de mim. Ver você dormindo no sofá, beijar todas as suas pintas, rir de você falando sozinho enquanto lava a louça. Ter seu abraço, me enlaçar em você e sentir o coração bater mais forte. Escutar todas as músicas que eu mais gosto do seu lado ou cantar até você dormir. Não ter certeza de nada, te surpreender a cada dia, seja com um bilhete do lado da cama, seja com uma declaração em plena terça braba depois de você ter se ferrado em uma prova. Queria brigar, desbrigar, te beijar, te odiar, te amar, senão mais. Te atiçar, correr, voltar, invadir sua paz, me enfiar na sua cabeça, querer ir embora por dois minutos. Acordar com você, cara amassada, alma limpa, dormir com você, cama amassada, alma cheia de saudade. Queria seu sorriso grande e queria que o meu sorriso fosse o seu preferido, te mostrando que a minha cara de boba também é só tua. Queria rir das propagandas da TV em plena madrugada, rir da minha criancice, rir até das coisas sem graça que você falar. Na verdade, queria te dizer que eu quero o que você é, o que a gente pode ser. Queria te fazer feliz, me fazer feliz. Me esbarrar logo em você por aí, nessa coisa que eles chamam de futuro. Ou que eu prefiro chamar de algoquearriscasersónosso.

29 de agosto de 2010

(In)visível



Soundtrack: Maxi Priest - Fields of gold
Incrível essa sensação que toma conta da gente, né? Por tantos dias, mal sinto sua presença, como se você fosse inconstante demais pra que eu possa te sentir, te ouvir, pra que eu possa captar sua frequência. Mais incrível ainda é a nitidez com que, por alguns momentos, ouço sua voz. Sinto uma sede danada de você e começo a te buscar nas coisas a minha volta, tentando adivinhar de que buraco fundo daqui de dentro vem esse eco que é teu. E que só pode ser o teu. Ninguém mais teria essa voz... Ninguém mais saberia tão bem como dizer meu nome, como sussurar para que eu não consiga escutar de onde vem a voz, fazendo com que eu realmente não ache esse buraco e aceite sua falta. Aceite que você já faz parte do que sou, mesmo quando eu me esqueço de mim e te perco por entre os fios do meu cabelo, ainda que eu saiba que tuas mãos os tocam dia e noite. Mesmo que às vezes eu me cegue com outras coisas, aceito que só o fato de ver a tua letra me faz imaginar os traços do seu nome, os desenhos do seu sorriso nos meus olhos. E aceito que mesmo quando meu nariz se entope com os ventos que trazem a ausência, ainda posso sentir teu cheiro... Esse cheiro de um dia meu.
A verdade é que você cresceu demais, seja lá em qual buraco de mim que tenha o teu nome. Você cresce mesmo se não te rego, mesmo sem eu saber se te conheço mesmo. Não sei se você é inquietação de cinco horas da tarde no trânsito, se é serenidade de domingo a noite. Desconheço suas manias, suas histórias de infância e também não sei se você já acreditou em papai noel, coelhinho da páscoa, se um dia você já acreditou em nós. Mas ainda assim, te ouço e tenho tantas coisas para dizer que prefiro guardar, do que achar onde você realmente fica aqui, fazendo a resposta virar silêncio. Vou me distraindo com miudezas, cultivando coragem, esperando que o Sol ilumine esse mundo louco que possa ser o nosso. Talvez foi esse o seu jeito mágico de se declarar em mim, sua presença nessa vida que a gente mal nomeia como sendo nossa. E é teu esse sentimento intratável de angústia que vira paz ao mínimo eco, sussuro, suspiro. Respeito você amadurecer, espero as histórias que um dia virão, vejo as fotos que não tiramos, os beijos que não selamos, guardo as horas que um dia serão nossas. Espero você amanhecer em mim, espero o dia clarear nessa sua toca, seja lá onde ela fique, pois de uma coisa eu sei: ainda temos uma eternidade, menino.

5 de julho de 2010

Souvenir



Soundtrack: James Morrison - I won't let you go

Às vezes, todos temos leves relances de que perdemos alguém. Nos damos conta quando as memórias tomam forma, cor e cheiro. Elas criam notas, viram músicas, viram códigos morse do amor, palavras gatilhos capacitadas para estimular um dos maiores chefões de um corpo: o cérebro. Ativamos uma das maiores redes de comunicação pessoal do mundo e ainda assim não sabemos compreender a que ponto deixamos um monte de massa cinzenta controlar nossos sentimentos. Por que não é tão simples olhar para uma bala de goma em forma de minhoca e vê-la como um docinho comum em festinhas infantis? Raramente, você se lembraria do seu 3º aniversário vendo balinhas de goma. Mas muito possivelmente, se lembraria do dia em que ganhou uma bala de goma por cada dia que esteve ao lado de alguém. E aí está a graça de todos os relacionamentos: eles deixam memórias, que sempre estão prestes a te fazerem pensar em mil coisas ao primeiro sinal do retorno, ainda que te façam lembrar da perda, do que não deu certo. Essa estrada rumo aos finais começa quando fazemos das diferenças, barreiras. Entramos nela ao nos vermos em momentos diferentes e idealizando coisas diferentes. Começamos a esquecer do presente e botamos a culpa no futuro, quando na verdade, o futuro nada mais é do que a esperança do que se faz hoje. E então deita-se no chão gelado, encosta-se a cabeça no tapete e tem-se a luz do corredor a iluminar as últimas lágrimas do gelo que restam para cair e derreter. Selamos tudo com aqueles últimos beijos que doem lá no fundo, que dizem tchau sem precisar de um mínimo sussuro. Ou então, fechamos a porta pela última vez, de modo que ela nunca pareceu tão pesada. Nos vemos como papéis picados voando pelo céu, como um avião que não pousa enquanto não acha uma pista de vôo suficientemente capaz de o suportar. Tiramos o direito das pessoas de serem destino, de serem exatas. Dissemos que não é o nosso número ou tantas outras analogias que sempre signficam: você não cabe em mim. Saímos voando demais e não pousamos. Queremos sempre a certeza, queremos saber em qual parada estará a melhor bala de goma do mundo, não sabendo que nós é que a fazemos ser a melhor.
Às vezes tenho o relance de que te perdi. Isso acontece quando te encaixo ao centro dos olhos e ouvidos, seja numa música, seja em um bilhete no fundo da gaveta. Hoje queria pegar nas tuas mãos e dizer que você sempre soube me perfumar com o teu sorriso mais sincero, grande e amigo. Hoje queria te dizer que você é doce como talvez seja alguma das melhores balinhas de goma que possam existir.

20 de junho de 2010

Obra



Soundtrack: Bright Eyes - First day of my life

O desejo do destino é algo que chega a escapar do poder de se segurar com as duas mãos. A tarefa de querer reinventar as coisas, de domar o que não se é certo, é realmente difícil, como escrever certezas a lápis num guardanapo. Respeita-se então a idéia de que durante todos os dias de nossas vidas aprendemos a construir momentos, em meio às incertezas, e junto deles construímos as pessoas. A maior verdade de tudo isso que chamamos de caminho, talvez seja o fato de que não importa se a construção exige tempo, mão de obra ou muitos tijolos, o que realmente importa é a argamassa. Não importa o tamanho do que se constrói e sim o que se firma entre o que constrói, podendo durar dias ou chegando até o limite do que se aprofunda eterno. Cansa fácil quem cria demais e várias vezes, quem usa de muitos tijolos, mas tem dó de gastar no reforço de cimento entre eles. Cansa quem sempre espera ver tudo cair a sua frente e ainda assim não aprende que o segredo da obra é o laço, é o nó de consolidação. O que perdura é ser acabamento simples e puro. É se aceitar mais de uma mão para construir, sabendo dividir o sentimento, sabendo ser mistura e se salvando do tempo que é um teste para a desatenção e a comodidade. O tempo é recurso do destino e seleciona não quem mereça amar mais, mas sim quem saiba amar e quem ousa. Quem ousa ser o que realmente é, não se diminuindo na primeira chuva, por saber que a liga da argamassa é forte e resiste. Ousa quem sabe reagir às palavras, quem se arrisca a perder o sossego, a sentir as náuseas desse barco de mares estranhos. Ousa quem acredita que há amor suficiente no mundo, quem ainda gosta de cafuné, quem escreve o nome do outro no box durante o banho quente. Ousa quem assume o poder dado a nós pelo destino de nos descobrirmos amantes, seja na falta, na urgência, carência ou paciência da espera. E assim se constrói amor, não se limitando ao número de construções e tentativas, mas também não se limitando ao "ser amado". Se constrói o amor, sabendo ser amante, diante desse Sol que nasce em cada dia de obras de uma das empresas mais ricas desse mundo: o coração.

24 de maio de 2010

But I'm long gone



Soundtrack: Iron and Wine - Flightless Bird, American Mouth

Me lembrei de um dia em que você estava indo embora e eu perguntei: já posso sentir saudades de você? Em resposta, simplesmente ganhei um sorriso, daqueles meio sem jeito e te vi descer as escadas. Hoje, depois de vários meses, me peguei pensando nisso. Por que diabos te fiz essa pergunta, sabendo que não existiria resposta alguma?! Se eu fosse um pouco mais esperta teria me prometido te esquecer naquele instante. Não deveria ter atendido mais o telefone, deveria ter virado um tatu no buraco, abelha rainha na colméia, raposa na toca. Simplesmente esquecido, escapado, sem te dar direito qualquer da sua mínima resposta: seu sorriso canto de boca, que doeu. Doeu você não permitir a minha saudade, essa que seria só minha. Eu que não estava nem pedindo a sua saudade, eu que não pedia pra que você lembrasse de mim, em pleno estado de "nada concreto" na sua vida. Pedi apenas pra que me deixasse te lembrar, pedi um copinho americano de carinho. Cheguei a pensar que pudesse merecer algo melhor e nem precisava ser o tal do seu amor. Aliás, eu nem sei se essa palavra seria tão maior que ganhasse do teu abraço, das nossas conversas. Talvez eu só quisesse isso, o teu sim, o teu consentimento, as nossas diferenças e até acreditaria no dia em que você acabaria com esse medo de deixar o coração rastejando baixo, essa coisa superficial. Eu secaria o seco, eu falaria rouca, eu amaria por dois, porque no fundo eu não me daria nem conta. Mas quando você desceu aquela escada, você fez por nós. Na verdade, a dor que ganhou não foi a do seu sorriso sem vontade, foi a dor de nem precisar secar o teu seco. Foi a dor de não poder escolher como eu devia me sentir e apenas sentir, de não precisar tentar. E lá estava a mocinha: out! Antes de querer sair, antes de pensar em deixar de amar, antes de escrever a primeira página... Out.