Soundtrack: Marcelo Camelo - Janta
Te recebo a qualquer hora. Mesmo que não tenha café, mesmo que seja nos meus sonhos. Te recebo em cada gesto, te recebo em cada lembrança do teu rosto, em cada expressão que vem com a ausência. Te recebo por inteiro, sabendo o quanto você me intriga e ao mesmo tempo me deixa rindo fácil. Te recebo mesmo quando a gente "se some", sem datas, sem contagens. Te recebo como cobertor de saudade, com a falta de tato e olfato sem você. Te recebo como se eu soubesse disfarçar o tremor das mãos, como se sempre fosse o primeiro beijo, como se sempre fosse o último beijo. Te recebo como se a história nunca terminasse, mesmo que você nunca mais viesse, mesmo que não houvesse mais o teu sorriso. Recebo você como milagre, invenção do céu, recebo você nas coisas mais lindas, serenas e intensas. Recebo você na fé, no teu olhar que me dissolve, recebo sem cura, mesmo que me chamem de louca. Te recebo na fuga dos dias comuns, no desejo do destino, na falta das palavras. Te recebo porque dois é sempre melhor que um. Te recebo porque o riso é espontâneo, porque abri as portas daqui de dentro pra você. Recebo sendo tua, recebo sendo meu. Recebo porque te amo!
26 de abril de 2010
15 de março de 2010
Polegar
Soundtrack: Coldplay - See you soon
- Parece que sua digital tem seu gosto.
Logo que seu polegar passou na minha boca, a vontade era dizer isso. Mas não consegui. Me calei, com o teu polegar na minha boca, com sua boca na minha boca, com seu cheiro nos lábios. Me calei com o pensamento voando léguas, com seu cheiro de meu, cheiro de saudade, cheiro com respiração. Me calei com seus olhos, com a naturalidade de como eu me perco e logo me acho, fazendo barulhos estranhos na sua bochecha. Me calei por te tocar, por ecoar no meu ouvido você dizendo: te amo. Calei por não ser necessário dizer, por não ser necessário interromper tamanha proximidade com uma baforada da minha loucura dizendo que tua pele tem gosto. E num impulso, esqueci do silêncio e pronunciei com a garganta seca de tanto ter me calado:
- Saudade.
E novamente, você se foi. Sem digitais, cheiro e silêncio, me sobra sempre a saudade e a nossa verdade, que te faz voltar em meio a dias de sorte e que me faz crer que o dia é realmente de sorte.
28 de fevereiro de 2010
Amantis Agudus
Soundtrack: Los Hermanos - Primeiro andar
Parei e pensei como eu andava me deixando esquecida. Sensação perigosa, quando se começa a reparar demais nos pés, querer movimento, mas ainda assim não se saber para onde ir. Comecei a ter medo de mim ao me conhecer mais em momentos em que eu me considerei sozinha. Trabalhar com a idéia de vida levando em conta o tempo, sentimento, duração (ou falta de tal) é algo muito humano e apesar de dizerem que tudo o que é humano não se faz difícil de ser compreendido por quem é um, talvez eu seja um dinossauro diferente sendo criado em meio a um Big Bang de partículas de esquisitice. Tenho achado realmente árduo crer, sentir e achar um jeito certo de levar as coisas e isso provavelmente seriam palavras que descreveriam bem uma pessoa difícil de se tocar ou comover. Mas como explicar? Sou exatamente o contrário, sou manteiga, fácil de se deixar inquieta, boba, daquela que fala qualquer coisa numa ligação, só pra ouvir a voz, daquela que qualquer frase louca e romântica deixa o canto da boca coçando de vontade de sorrir. Não sou daquele tipo que valoriza memórias sem cor, sem cheiro e nome, não me proíbo das emoções, nem boto arame farpado no coração. Só cansei de ser pedaço, ainda mais quando o pedaço não é nem sequer uma metade. E o problema não deve ser eu, afinal os dinossauros viveram por muito tempo, embora esquisitos e estranhos. Dinossauros também deviam amar outros dinossauros e não deviam se sentir sozinhos, porque pelo menos não foi de tristeza que morreram. Dizem que foi o tal do asteróide, só não se sabe até hoje é se foi de amor. E tem outra: "isso" lá vai matar alguém? O que incomoda no amor é a fragilidade. É ser volátilssauro para alguns, brutossauro para outros e Amantis Agudus, no meu caso. Seja amor por alguém especial, amor pela vida, pela salada, pelo time de futebol, pela vizinha, pelo rosto do galã da novela, o importante é que amor não mata, a gente é que tenta matá-lo e claro, não somos asteróides capazes. Mas que idéia?!
22 de dezembro de 2009
Ventura
Soundtrack: K's Choice - Believe
E o coração diz: amar é para quem pode. Gostar chega a ser fácil, o mundo continua girando a nossa volta, a vida te tira para dançar, mas não te tira do compasso. Os momentos seguem sendo completados por encontros mais planejados, do que desejados. Gostar só exige um dia calmo e bonito, um bom papo, quem sabe um bocado de invenções, um bocado de mágoa passada, um bocado de doce em boca amarga. Gostar não exige perda de sono e nem perda de fôlego. Quando se enaltece, até chega a não desejar a separação, mas não sobrevive em meio à idas e vindas, porque logo no caminho surgem outros gostos. O coração clama, reclama, mas não se dá. E uma hora chega o amor, fazendo logo o canto da boca coçar de vontade de sorrir. Vem junto a sensação de chuva que molha e refresca. E só resta amar! O que há de se fazer?! Pacto de paz com o mundo! Admira-se as pequenas coisas, tenta-se achar soluções para os problemas do dia e nunca foi tão lindo ouvir uma musica no trânsito que fale de amor. Amor, amor... Como soa bem, como ocupa a cabeça, o coração, o ouvido, o peito, a barriga, os olhos... E o corpo vai achando lugar pra caber tanto amor assim. Mas amar dá trabalho, meu amigo. Não é companhia desacompanhada, não é sorriso com pesar, não é se esquecer de si. Amar é sim ou não! Não é aquela história de talvez não seja hora, talvez não seja eu, talvez não deva se envolver, talvez não seja doce. Não é contrato, mas não é sem alma, sem palavra e crença. Amor é doar o agasalho em troca de um ingresso para a felicidade, é querer esperar pela linha de chegada mesmo sem saber onde ela fica. É aceitar defeitos e também é aceitar perder. Aceitar que pode não ser, mas que nem por isso deixa pra trás o que foi. Amor é chute leve nas pernas, pra deixar bamba, mas sem deixar cair. É frenesi que aconchega, sem pedir, mesmo que lá no fundo se ouça uma voz que diz: atende, que sou eu.
3 de novembro de 2009
Como se fosse ontem e amanhã
Soundtrack: Sara Bareilles - Gravity
Meras tentativas, mas tão doces. Doce como te beijar, doce como quando passa alguém com o teu cheiro perto de mim e fico te procurando, na esperança de você chegar bem perto do meu ouvido e me encher o estômago de borboletas. Doce como você me abraçando, como eu te abraçando querendo entrar dentro de ti e saber o que mais tem aí dentro. Doce como o mundo que eu criei pra você dentro de mim, doce como te ver sorrindo, como te esquecer às vezes só pra lembrar novamente. Em meio a tardes, papéis, livros, fazia da sua lembrança um modo de desfazer um nó daqui de dentro, fazia da sua presença minha sorte. Te quis perto de mim não ligando para o que achassem, quis sua verdade, quis ser sua verdade. Cheguei a pensar que até se um dia eu estivesse em Madagascar, ou sei lá, algum lugarzinho que eu considere bastante improvável, ainda assim pensaria em você e talvez te escrevesse um postal pra falar de qualquer coisa. Mas hoje, sobrou silêncio. E não que ele também não seja doce! Talvez seja o tal do silêncio de respeito. Talvez as palavras traiam o que a gente sente e então é melhor não dizer nada... Hoje me peguei parada, estaca zero, não consegui ir adiante. Tenho o sério defeito de ficar pensando no próximo passo, não como sinal de desespero, nem de flutuação. Algo como pensar e guardar só pra mim, pra enfrentar o destino. Mas parei de andar, quando vi que na verdade não havia passo a frente. Agora, é hora de aprender de novo. Recomeçar: a tal palavra de sempre. Fazer o presente valer também por ontem e amanhã, fazer terça ser o aprendizado de segunda aliado ao mistério da quarta. Nem vou perguntar porque você se foi, nem vou dizer que estou triste. Não te chamo de pequena construção, nem de obra faraônica, você é uma sala aqui dentro de mim e agora só faço questão de te pintar e cuidar de você, entendendo que a sua cor mudou. Saiba que o postal ainda está de pé e quem sabe, talvez uma música ao pé do ouvido.
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