4 de fevereiro de 2013

O poder dos 5 minutos


Soundtrack: Florence and The Machine - Shake it out

Sabe que eu até gosto desse negócio de te reparar bastante. Parece que depois que você vai embora, faço um mapa de cada pequena coisinha sua pra que eu tenha companhia. Como quando você sai do banho com os olhos um pouco vermelhos e eu fico pensando se você é tão forte que nem os fecha quando cai sabão. E tem também o modo que seu cabelo se ajeita e em 5 minutos você já parece estar pronto, com os dedos enrugadinhos feitos pra encaixar nas voltas da minha pele. Aí você coloca qualquer roupa torta só pra que eu fique te ajeitando, enquanto você vira a cabeça pro lado como se negasse meu cuidado de mãe, porque logo depois você me beija como amante. E em 5 minutos perto de você, meus dedos tem seu cheiro e meus olhos tem seu abraço. Como quando você ri da minha falta de habilidade até pra cortar um tomate e logo me olha como se dissesse: é só um tomate, manda a ver. Já que em 5 minutos, você vai perder a paciência, pegar outro tomate e cortar bem mais bonito que eu. Ou quando no meio de uma conversa você me olha e depois de 5 minutos pergunta: você cortou o cabelo? Ou mesmo algo mais direto como: você não lavou o cabelo hoje?
Hoje quando acordei, fiquei pensando como seria parar de viver de 5 em 5 minutos. Como seria parar de esperar pelos seus 5 minutos de ação, rebocando qualquer sentimento de medo da minha estradinha velha e surrada. Fiquei pensando como seria explodir sem procurar aquele seu ponto intocável, onde nada se abala pra que eu entenda que a vida pode ser mais simples. E me perdi no tempo. Foi como viver uma hora em um pensamento. Foi como ver o dia cair e logo ter que colocar pijama na espera de outro dia que vai nascer. Foi como não ter pelo que esperar, foi como ser criança e esperar pelo momento do seu desenho preferido que saiu do ar. Dentre tantas palavras de 5 minutos que talvez pudessem caber, as únicas que sobraram foram as que encaixaram no tempo do último tchau, do a gente se vê... meio sem jeito de se ver. Foi o ponto final onde até hoje só couberam reticências. E então entendi que a maior mágica é dos que choram rindo, como quem sempre viveu sem saber o que esperar. Como quem perdeu coisas a ponto de compreender que no fundo as pessoas ganham quando se perdem. Que as pessoas mostram os dentes sorrindo até quando choram. Que quando se chora é a abertura para que Deus entenda nossa confusão e que Ele perdoe a nossa falta de jeito com o que não entendemos, pra que Ele também entenda o poder dos 5 minutos. Os 5 minutos de desistência quando nossos pés não querem encontrar o chão ou quando a gente só quer dizer: "que merda de fase é essa?" que faz a gente voltar procurando todos nossos pecados no passado, sendo que a gente sempre acaba na mesma frase "eu não sabia nada da vida naquela época". Mas e agora? Eu acho que ainda não sei nada da vida. Eu que sempre fui viciada em falar de amor, eu que sempre sentei ouvindo as pessoas que queriam falar de amor me achando mestre na qualidade de conselhos, eu que não soube falar do meu amor em 5 minutos antes de só ter o tempo de analisar suas costas, pela última vez. Eu que no poder dos 5 minutos só consegui chorar. E talvez foi no meio daqueles minutos em que tudo ficou mais claro : ainda existem pessoas que acreditam nos nossos erros, que estão dispostas a pisarem na grama que pinica só pra ver a gente apreciar o prazer das pequenas coisas (que ainda assim pinicam). E existe quem dança quando a gente pede, existe quem arregaça o coração pra ver a gente sorrindo, assim como existe quem segue em frente e arregaça nosso coração. As pessoas só existem em meio à dúvida que é esse voo para não sei onde, às vezes primeira classe, às vezes porta do banheiro. E daqui da porta do banheiro, tento ainda dizer: entendam o poder dos 5 minutos. Ele acontece nos momentos em que você faz dos 5 minutos a duração de um pra sempre. E então, ele começa outra vez.

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