21 de dezembro de 2010

Tributo a 2010


Soundtrack: Maria Rita - Encontros e despedidas

Hoje falarei sobre isso que chamamos de final de ano. Momento crucial de reflexão, em meio às luzes de nossas árvores e o sempre simpático "feliz natal" ouvido após o tchau. Tenho amigos que insistem em não gostar do natal, por pensarem se tratar de um ritual besta qualquer em que você ganha presentes e come pra valer. Eu, sempre considerei muito mais o natal do que o ano novo como data de renovação. Trocar o calendário não se faz mais especial do que refletir no dia do bom velhinho, na minha opinião, claro.
Minha família nunca foi de se reunir muito nos natais, talvez porque ela seja pequena e cheia de picuinhas internas. Mas em casa, temos um carinho especial, entre nós 4 (eu, meu pai, minha mãe e minha irmã) pelo momento em que o relógio marca a chegada do natal. Minha irmã sempre se responsabiliza pelas preces e quando mais nova, eu sempre pensava quanto tempo ela teria pensado pra conseguir falar tudo aquilo tão bem. Tentava imaginar como ela conseguia descrever um sentimento que virava voz, entrando pelos nossos ouvidos e iluminando os olhos dos meus pais. Tinha orgulho daquele momento, mas nunca soube muito bem o que dizer. No final, minha vez era sempre recheada de enrolações do tipo "o ano foi bom, espero que o próximo seja melhor ainda". Ontem, antes de deitar, fiquei olhando a lua bem cheia e tentei me dar conta de tudo que aconteceu esse ano. Impossível fazer um balanço de cada momento, mas de um modo geral consegui visualizar algumas das coisas que poderiam descrever o meu ano de 2010. Fiz amigos incríveis e descobri que a distância demole amizades mal resolvidas. Uberaba me apresentou amigos de farra e amigos de casa. Briguei com meu vizinho de baixo por barulho e briguei comigo por barulho interior. Descobri locais estratégicos de fuga da realidade e descobri novas casas pra morar. Bebi, bebi muito. Tive ressacas físicas e morais, por mim e por outros. Me apaixonei, achei que apaixonei, desapaixonei. Descobri que tenho a séria necessidade de contestar o que pode ser e que tenho preguiça de pessoas que não causam isso em mim. Tenho preguiça de quem não me faz criar planos, seja para os próximos dez minutos. Muito além do diálogo clichê de "odeio gente morna", eu descobri ter preguiça de gente que não causa em mim o sentimento de reboliço interior. Mas 2010 também me trouxe perdas. Perdi gente, perdi carinho, perdi contato. Perdi algumas passadas de mão na cabeça e passei a encarar algumas coisas com o espírito de solidão acompanhada. Sempre acho que falta algo e esse ano tentei fazer minhas própria argamassa pra completar meus buraquinhos. Abandonei a idéia de tentar encaixar pessoas onde elas não cabem e simplesmente comecei a esperar a chegada de alguém que caiba. No quesito faculdade, me confundi bastante. Pensei gostar de coisas que, agora no fim, olho e vejo que ainda não sei como lidar. Dei plantões no hospital. Vi gente saudável fazendo drama, gente doente por dentro e por fora. Criança prematura, faltas de escolhas, faltas de opções, meninas grávidas e solteiras. Criei em mim um teto de vidro, fácil de quebrar, mas totalmente feito pra se tornar uma redoma, separando o que penso do que realmente é. Tive muitos desses sentimentos de que não valorizamos o que temos nas mãos e nos enfurnamos no nosso mundinho, sem saber que existe muita coisa fora da redoma. Tive lapsos de não saber se estava no lugar certo, na hora certa. Tive medo, fui egoísta, fui humana. Tive dias enfiados em pensamentos do que fazer da minha vida nos próximos anos. Tive dias enfiada na cama com preguiça de ir às aulas chatas. 2010 se encheu de dias pesados em contrapartida aos dias leves e aprendi a dizer não para algumas coisas e pessoas. Esse ano fui eu mesma por muitas vezes e deixei de ser eu, evitando conflitos. Fiz 19 anos e me dei o direito de me achar madura por alguns momentos. Senti saudades de casa quando estava em Uberaba e senti saudades de Uberaba quando estava em casa. Descobri que as pessoas não são sempre iguais e eu também não. Aprendi a gostar de açaí e até comi maionese sem saber. Esperei por coisas maiores que eu e tive coisas menores que um alfinete. Não esperei nada de pequenas coisas e elas mal couberam nas minhas mãos de tão grandes no final. Aprendi que algumas coisas devem simplesmente ser ditas, sem burlar a auto-estima de ninguém, mas que sinceridade tem dose certa. Cheirei muita fumaça dos carros, fugi do mundo, fiz do meu quarto um abrigo. Passei mais um ano sem experimentar um cigarro e sem a mínima vontade. Escrevi muito, seja coisas que guardei pra mim ou que mostrei a todos aqui nesse blog... 2010 confirmou a idéia anual de que nunca é fácil se viver 365 dias lidando com alguém cheio de defeitos e qualidades, que no caso sou eu. Mas comprovou mais uma vez que tenho vários modos de viver 365 dias acreditando na mudança, não só da lua lá no céu.
Gosto do Natal porque não me importo com que cor de roupa usar, não acredito que o que eu escolher influencie no que venha. Paz, amor, felicidade, dinheiro... Todo mundo deseja isso e que se foda a cor da sua roupa. Quando a gente quer, a gente corre atrás. E sempre temos o direito de esperar algo maior. No final, todos chegamos ao mesmo ponto: para cada dia temos um destino feito de escolhas, não importando o ano, nem se é páscoa, natal ou o dia de lavar a louça suja.
Feliz natal a todos e um feliz ano novo, cheio de novos amigos, buracos incompletos, pouca maionese e muitas escolhas!

3 comentários:

J. MD disse...

Nossa, seu desejo de viver, seu anseio por felicidade, sua maturidade me faz pensar em como quero ser como você, quando eu crescer. Feliz ano novo, que sua vida venha ser feita de mais buraquinhos e que sempre haja argamassa para tampá-los.

Filipe Garcia disse...

Camilla,

é verdade que todo fim de ano a gente acaba percebendo as mudanças. Janeiro parece ser o mês da imaturidade, dos desafios, dos medos daquilo que vai chegar. Dezembro termina com um alívio, com um sentimento de que tudo [ou quase tudo] foi muito bom. Daí que perceber que um degrau foi deixado para trás chega a nos deixar em transe. Caminhemos. Vamos todos de mãos dadas...

Que 2011 seja.

Anônimo disse...

Vc ficava um tempo pensando no discurso de natal?
eu fico aqui pensando em como vc senta e escreve tudo isso de uma vez e eum uma sentada só
beijos
nanda