4 de novembro de 2010

4 em 365



Soundtrack: Lenine - O silêncio das estrelas

Hoje, acordei e fiquei vendo o Sol mostrar seu rascunho com a chegada no céu. Ali, estática, assumi a condição de telespectadora de rascunhos de Sol a cada tarde, de rascunhos de pessoas e momentos. Acordei, tomei meu café e saí ao encontro de coisas em que, eu sei, você não está. Saí com o pensamento de não te revelar em mim com a primeira lembrança e torci para não encontrar o vizinho no corredor, que tem o mesmo cheiro que o seu e deve me achar uma idiota por nunca conseguir trocar mais de duas palavras. Fugi. E pequei: lembrei de você ao primeiro passo fora de casa. Mas ensaiei o sorriso fingindo que o mundo por aqui tá lindo. Que estou rodeada de pessoas e não preciso de mais nada. Me enchi de amigos, de frases e feitos, enquanto fazia toda a maquiagem dessa imagem de mim. Disfarcei uma saudade, mas deixei os pés afundarem até a canela em tudo isso que envolve você. Saí e logo o vento me encostou, feito seus dedos apoiados nos meus ombros. Me tocou feito sua boca em minha testa. Me arrepiou e eu fugi. Fingi não sentir nada, mas já pequei: lembrei de você ao primeiro toque do dia, ainda que do vento. Nunca pego o sinal de pedestres aberto e fico sempre no vermelho, vermelho, vermelho, vermelho... Tive tempo de pensar como deve estar sua barba ou se naquele momento você poderia estar acordando e até pensando em pecar ao pensar em mim também. Verde. Atravessei a rua, enquanto sentia que agora já estava afundada até os joelhos. Pensei em te mandar uma mensagem dizendo que me lembrei da sua barba no sinaleiro da avenida, mas não teria a minha voz irritante pra dizer. Não teria a mesma graça sem ver sua reação, sem saber se você estaria colocando a língua pra fora, fazendo aquela cara que você sabe fazer quando não sabe o que dizer. E aí não deu, logo no terceiro pecado me entreguei. Quis sair correndo e encurtar qualquer distância. Ficar olhando para a tua mão bonita e não para tantas palavrinhas miudinhas em cantos de caderno. Quis sentar num banco e te esperar, sabendo que uma hora você vem. Quis de verdade atropelar o tempo e não fazer mais sentido. Quis seu abraço no frio, sentir sua respiração ritmada no meu pescoço e parecer estranha por gostar de quem não é meu. Mas eu sou assim, boba e de entrega fácil ao seu sorriso despreocupado.
Hoje é dia 4 de novembro. Hoje eu me permiti parecer essa louca, que você já pensa que eu sou. E muitas coisas passaram pela minha cabeça, desde o primeiro dia em que eu te vi, com aquela camisa que virou assunto. Vieram todos os silêncios por não saber o que te falar ou como dizer. E vieram também todos os silêncios que falaram por si só, pude juntar todas as palavras que calaram. Revi todos os seus sorrisos e tive que concordar com a minha mãe: ele é realmente o mais lindo do mundo. Tudo me trouxe lembranças. Tudo me trouxe você, em dias de chuvas, em madrugadas insanas, momentos diferentes de tudo que eu já vivi. O destino me trouxe você em camas diferentes, em uma cama igual e uma saudade única. Você veio até mim, me fazendo comer maionese uma vez na vida, ouvir música sertaneja ou qualquer outra coisa que seja totalmente diferente. Desculpa que eu não sou poeta e fico emendando essas sensações esquisitas, que talvez você não sinta. Não sei encaixar tudo que eu quero dizer e as frases ficam soltas, feito eu sem teu abraço. Desculpa se elas ainda deixam transparecer o medo que, no fundo, eu sinto de tudo isso. Mas gosto do que eu sou quando estou ao seu lado. Gosto de poder escolher a música pra gente ouvir e de mexer no seu cabelo. Gosto de ver os rascunhos nas pessoas por aqui e ver que a cada dia o nosso é o mais indicado para uma boa leitura. Permito nossa insegurança, mas mesmo com medo, eu estou aqui. Mesmo sabendo que você não dirá nada, deixo você disfarçar num "você escreve bem". Mesmo sabendo que hoje, quando eu deitar, terei uma noite inteira da minha própria companhia, estou aqui. De modo estranho e por meio de um texto previsível e cheio de repetições de você, eu, você, eu... me entrego nessas linhas. Hoje é dia 4. E de maneira desconexa, como um 4, em 365, eu te amo em todos os seus defeitos e silêncios.

5 comentários:

João Filipe Dutra disse...

Camila, gostei muito do seu texto, assim como de todos os outros, e foi legal descobrir que não sou o único que é vítima do vermelho do sinal.
abraço

Borboletas no Aquário disse...

Muito obrigada! Vim agradecer o comentário deixado no meu blog e te digo o mesmo... suas palavras têm açúcar!!
Me identifiquei demais com o que escreve!
beijão ;*

David Catalunia disse...

em um texto uma vez revelei que qdo muleque eu qria ser poeta, e hj lendo seu texto percebi o quanto chato é ser poeta, os poetas organizam sentimentos, prefiro deixa-los voando em descompasso, na fluidez de uma dança aérea.
Obrigado pelo elogio, fico feliz que tenha gostado do que escrevo, eu só li um texto seu ainda, mas mesmo assim posso dizer que sentir muita sinceridade nas letras e isso me deixa felizz

ΞĐU disse...

Olá, Camila...
Navegando pela internet, achei este seu espaço...
Olha, muito bom o seu blog, suas idéias, sensibilidade e seu bom gosto...
Parabéns pelo trabalho!
Saudações,
EDU (http://edurjedu.blogspot.com)

Letícia Silva disse...

lindo o post, você passa muita sinceridade!

seguindo *.*

http://sonaturally.blogspot.com/