26 de dezembro de 2011

Attraversiamo



Soundtrack: Caetano Veloso - Oração ao tempo

O tal relativismo da passagem de ano. Engraçado como realmente 365 dias são capazes de nos transformar, nos aproximar, nos afastar, nos encher os olhos com perspectivas diferentes. 2011 foi um ano de intenções, planos desfeitos, refeitos, concretizados. Sem dúvida alguma, o ano mais difícil de todos os 20 que já pude presenciar. Pensei em muitas palavras capazes de descrever e a melhor foi: FÉ. Com tudo que ela traz, uma palavra de duas letras teve um poder energizante sobre tudo que agora eu sou, nessa quase chegada de 2012. Sem qualquer palavra pomposa, a fé, esse "algo" nada palpável, mas tão visível, tomou conta de mim com a mesma facilidade que qualquer luz consegue iluminar um quarto escuro. Esse ano me conheci diante desse mistério que é crer, sentir, agradecer, celebrar nosso amor interno. Mantive a fé em algumas pessoas, outras a cativaram. Acreditei, confiei, investi nesse poder que é o encontro de almas. Essas pessoas conheceram meus melhores sorrisos, tiveram meus melhores abraços, me aqueceram nessa manta quentinha que é a amizade. E a eles, vai meu muito obrigado. Talvez sem ver, num simples olhar, vocês me deram uma força tremenda que nunca caberia em palavras. Tive fé também nas decepções, nos erros, nas despedidas. Esse ano mais do que nunca fui prova de tal frase tão corriqueira, mas ainda assim tão verdadeira: "nada acontece por acaso". Não me arrependo dos passos em falso, das pessoas que me desapontaram ou o próprio destino, esse pregador de peças, que por muitos dias me roubou o sossego, colocando no lugar um olhar perdido. Me vi diante de reflexões maduras, até infantis e concluí que realmente não adianta querermos encaixar momentos onde eles simplesmente não cabem. Sou total fã do coração, dessa magia que é deixar o sentimento transpirar, mas de vez enquando é bom acreditar no poder que as nossas pernas podem ter de fugir de algumas situações, de escolher rumos diferentes. De vez em quando um pouco de anti-transpirante de sentimentos tem que existir ou resumindo, ser racional também faz bem. A própria anatomia do corpo diz: não dá pra carregar o mundo nas costas. 2011 foi um ano de encaixes e desenlaces, proximidade e distância... e uma conclusão. Dá pra ser feliz mesmo quando as coisas não saem como a gente imagina. Mesmo quando nossa alma acorda feito nosso cabelo, meio desarrumada, dá pra tomar um banho gelado e vestir a roupa mais bonita do guarda-roupa, mesmo que seja pra ir ali comprar pão. Esse ano perdi um pedaço meu e não acho que 2012, 2013, 2014 mude essa falta. Alguns vazios simplesmente exigem o vazio. Repetitivo né? Mas é bem simples assim. Aceite isso, a falta é uma das palavras mais usadas quando se trata de amor. E essa foi uma das outras coisas que eu também aprendi: não julgue o amor. O amor não enruga, ele não fica gordo, o amor não pinta o cabelo de laranja, o amor não tem tatuagem, não gosta de tal tipo de música, o amor não toca no rádio. Por isso não vamos usar essa mania humana de julgar tudo que vê pela frente. Sinta o amor, mas não queira a cura e a felicidade em todas as coisas nas quais VOCÊ decidiu depositar seu amor. Não queira julgar quem entra e sai da sua vida. Você tem a opção de escolher o que quer fazer, então dê o seu melhor, mesmo que lá na frente você precise nunca mais ouvir uma música. O único julgamento que podemos nos fazer é: estamos vivendo SEM amor? Conviva com as faltas, mas não aceite a falta de carinho, de amor próprio. Não seja resignação diante do poder transformador de abraçar. Tenha fé no ouvir, falar, perdoar, agradecer. Não duvide do poder das pequenas coisas. Não duvide do poder da oração ao deitar ou acordar. Converse com o seu Deus, fale do seu dia. Me tornei muito amiga de Deus, a ponto de conversar com Ele tomando um suco. Em meio a tantas distâncias, ta aí uma pessoa próxima e que nos ensina o quanto, às vezes, tudo que alguém precisa é ser ouvido. Tenha fé até nos seus sonhos pequenos, ache alternativas para que as coisas mais chatas do seu dia se tornem legais. Mas não faça isso sempre. 2011 também foi um ano de cabeça no travesseiro e muitas lágrimas. Não ache normal felicidade constante e escolha momentos para não conseguir articular seus sentimentos. Esse ano usei de uma palavra mágica que fala por si: o silêncio. O silêncio é uma prece, uma dádiva. Provavelmente, nos maiores silêncios do ano pude trabalhar o poder de pensar e ainda assim não falar. Remar o barco e conseguir ouvir só o barulho do mar, ouvido seletivo. Mas remar para onde? 2011 também teve um certo ar de perdido, exigiu um pouco mais de força no remo. E mais uma vez entrou a fé, um vento impulsionando o meu barco quando eu pensei não conseguir remar.
Em meio a 365 dias, poderia escolher mais de 365 agradecimentos. Mas dedico esse ano ao tempo que anda sempre ao lado do que chamamos de vida. O tempo, esse agridoce diário, essa descoberta, essa busca, essa fé que surge de onde menos esperamos. Mesmo diante de tanto caos interior que consigamos entender que algumas coisas só se tornam claras e cabíveis com o passar do tempo e de algumas pessoas pela nossa vida. Sempre existirão loucuras específicas para a nossa existência. E resistir a isso é se negar a viver um dia de cada vez. Que ele nos dê a mão e nos convide a atravessar juntos, um passo de cada vez. Que 2012 nos aproxime mais do que chamamos de nosso, que estejamos mais perto dos nossos sonhos, dos nossos amigos, dos nossos amores, da nossa paz. De tudo em que depositamos nossa FÉ!
Como uma amiga hoje lembrou: attraversiamo. Atravessemos juntos. Que venha 2012, com muito tempo pra ser feliz!

28 de novembro de 2011

Organiz(ando)


Soundtrack: Feist - Intuition

Você sabe onde eu estou. Sabe que eu adoro sorvete de pistache, beijo no queixo, arrepio bom. Sabe que eu adoro alguns clichês e frases bonitas bem organizadas, com metáforas de mocinho poético num olhar que fala. Você sabe o que me toca, sabe o quanto odeio as coisas não-vividas, gente superficial. Você sabe da minha indecisão, até na hora de escolher um suco ou de pensar qual a melhor palavra pra te descrever. Você sabe que consegue roubar meus pensamentos por telepatia, sabe do estrago que ainda faz no meu subconsciente, insistindo em me fazer sorrir ou em ter vontade de te matar .Você sabe que a gente se entende, só que insistimos em falar línguas diferentes, sobrando a tarefa de tradução pro silêncio, com interpretações pessoais e isoladas.
Você sabe que eu continuo aqui. Sabe que ainda tropeço em você por aí, mesmo sem te ver. Sabe que ainda dói, por mais maluca que eu pareça falando isso e que eu ainda me pego lembrando de você cantando Zeca Pagodinho no meu aniversário. Você sabe que vai encontrar alguém e eu também. Sabe que esse alguém vai tentar arrumar seu guarda-roupa ou fazer um trato de uma semana sem coca-cola. Você sabe que esse alguém vai te conquistar, porque gosta de fotografia, das mesmas músicas que você e consigo ver vocês cozinhando juntos, tomando um vinho branco e rindo do destino. Você sabe que vai se desequilibrar, vai se perder e vai acordar pensando em tudo, menos em mim. Você sabe que os presentes vão parar no fundo da gaveta, que os recados do carro vão ficar só na memória e que as fotos do seu mural vão ser trocadas. Que a gente vai se acomodar a ficar sem o outro, que algumas coisas em nós vão mudar e outras não. E sei que ainda vou me perguntar mais umas 15 vezes por dia se fiz a coisa certa, até o dia em que eu me pergunte 10 vezes, 5, 3. Até o dia em que eu não me pergunte mais.
Mas já que é pra ir embora, vamos de vez. Digamos que valeu a pena se perder, até porque não tem graça se achar o tempo todo. Então a gente se organiza e adequamos o tamanho do lugar de cada um. Eu tomo meu sorvete de pistache, você faz suas viagens misteriosas. Paramos de tentar nos enfiar em aspas e mesmo que nada venha agora, aceitemos a transição, a espera do próximo passo, mesmo sem chegar no tal do "lá". Sei que pareço patética tentando parecer a forte e decidida da história, vendo as coisas com outros olhos, num tal de não-tá-bom-mas-tô-bem, só que eu sei que doeu e vai passar. A vida é assim mesmo: água na ferida lava, mas dói. Se cuida, por mim.

6 de novembro de 2011

Dentre todas as coisas, o amor



Soundtrack: Adele - Don't you remember

Fizeram a gente viver distinguindo isso que é o certo ou o errado. Fizeram a gente acreditar que ou algo te faz bem ou algo simplesmente te faz mal. Enquanto a gente vai se enfiando por entre coisas agridoces, vamos tentando perder a essência fazendo com que elas sejam agri ou doces. Fizeram a gente acreditar que alguém só te fez feliz enquanto você não o perdeu. E enquanto isso vamos deixando de acreditar no que as pessoas podem representar e ensinar. Se terminou, não foi amor. Se não durou ao ponto de se mostrar os defeitos mais subversivos ao potencial pessoal de alguém, não foi amor. Fizeram a gente acreditar que se não houve mudança dos seus hábitos por alguém, não foi amor. Acreditar que se pode reinventar o outro vezenquando? Não, não pode. Porque fizeram a gente acreditar que o amor é palpável e o que você vê tem que ser o que você ama. Fizeram a gente acreditar que se mexe com os hormônios, se faz sentir tesão (misturado a algumas doses de vodka), não pode ser amor. Porque o amor é sempre puro. Fizeram a gente acreditar que desencontro não é amor. Que se perder no caminho é sem volta, porque o amor não se adia. E assim, fizeram tudo ter prazo. Enquanto o destino vai separando as pessoas e outros vão se descrendo do chá de maturidade que pode ser o tempo. Fizeram a gente sobrepor o amor aos avessos humanos. Fizeram a gente acreditar que no amor a gente cronometra as palavras, que é feio, às vezes, explodir e realmente não querer voltar atrás, simplesmente ter vontade de esquecer. Porque ensinaram que amor é sempre perdoar. Fizeram a gente acreditar que o que vale é o "no final das contas", enquanto o mais bonito é "o que se somou para chegar no final das contas". Fizeram a gente acreditar que amor é apresentar uma mão diante de uma jura de amor repetida por vários, enquanto talvez você passe anos sem apresentar as duas que você tem ou ver quatro mãos.
Ensinaram tanta coisa errada e ainda não temos talvez aceitação para a única verdade de todos os tempos: o amor dói. Dói de alegria, dói de ansiedade, dói de saudade. Dói no ganho, dói na perda, dói no desgaste. Dói porque é humano. Dói até o dia em que se torna indiferente, porque o motivo para ter dado certo foi simplesmente ter dado errado. E então ele renasce. Porque para amar não precisa existir um amor para a sua vida, precisa existir o que lhe é entregado em prece diária: a sua vida com o que você chame de amor.

8 de outubro de 2011

Sobre recheios e adubos



Soundtrack: Ellie Goulding - Your Song

Não estou querendo que as coisas voltem ao normal e nem pedindo pra você voltar. Talvez pudesse simplesmente chamar isso de estado de silêncio. As palavras tem o sério poder de nos traírem vezenquando, como se diante de situações que envolvem o questionamento dos nossos sentimentos, um filtro, que liga nosso coração a boca,  furasse. Assim as palavras se misturam ao que sempre se quis falar e escorrem em meio a um vapor de saudade. Mas como você já sabe do meu filtro furado e da minha dificuldade de retenção de idéias, aqui vai... "Você tentou melhorar o pior de mim". Talvez essa seja a primeira frase. Talvez você conseguiu. Talvez não. A questão é que em meio a essas nossas tentativas, eu me perdi, confesso. Me perdi tentando buscar uma identidade que não tinha minha cara, minha foto, minha filiação, minha digital. Me perdi usando dos filmes para chorar pelos meus problemas, me perdi usando de outros disfarces para inutilmente tentar mostrar que eu sou diferente. Você é uma pessoa boa e eu também (e espero não estar traindo o que meu coração pensa ao dizer isso). Só não queria que você achasse que uma pessoa boa não faz o que eu fiz. Os bons erram mesmo quando querem tanto o bem de uma pessoa, a companhia e o sorriso que acabam não respeitando o limite que o tempo cria ou simplesmente consome. O erro começa no pensamento de que sempre cabe mais perdão daqueles que nos amam, até o dia em que cansados de nos perdoar, essas pessoas começam a nos julgar mais pelo erro e menos pelo que é bom. Uma simples palavra traidora do que a gente pensa, uma simples atitude por impulso, passa a valer mais do que as músicas cantadas no carro. Você foi meu adubo, não te substituí pelas outras pessoas, eu optei crescer com você, mesmo sabendo que sou plantinha pequena. Eu optei pelos dias com você, mas não soube optar pelo que poderia ser mais duro de se fazer, mas ainda assim tão mais certo: respeitar o tempo das coisas. Acredite, eu sinto saudades. Mas falta é uma coisa perigosa quando a gente confunde com apego. Acho ruim quando acordo pensando o que você pode estar fazendo, se você continua com aquele guarda-roupa bagunçado e a barba por fazer. Isso é apego e gruda na gente de um jeito que não deixamos a pessoa seguir a vida dela, mesmo que seja no caminho imaginário do nosso pensamento. Mas acho bom quando sinto saudade. Quando fecho os olhos e ainda ouço sua risada. Quando vejo as suas fotos e ainda consigo enxergar aquele suor que fica embaixo do seu olho. E isso é gostoso. Nessas horas vejo sentido em tudo que aconteceu com a gente, vejo sentido no porquê ficamos juntos. E aceito o que de melhor você me deixou.
Eu diria que relacionamentos são como um eco num espaço vazio. O que dizemos reflete em nós mesmos. Tudo que dizemos volta, mesmo que com intensidades mais fracas, mas por repetidas vezes, ressonando nos nossos ouvidos. Nesses momentos, é preciso fechar os olhos para ouvir melhor o que estamos refletindo ou simplesmente aprender como ouvir, mesmo que não se ouça nada. Silêncio também é dádiva.
Cada um ao seu modo, cada um com sua mágoa, a questão é que os finais sempre nos doem, mas nesses momentos muitas das respostas aparecem. Os vazios nos oferecem espaços grátis. Quando abrimos mão de algumas coisas, vemos nossas mãos vazias e 100% de chance de agarrar coisas novas. Algo sempre vai faltar, mas é questão de escolha o que queremos no recheio. E eu te desejo algo bem doce.

17 de agosto de 2011

Vinil



Soundtrack: Norah Jones - What am I to you?

E de repente um gene de coragem brotou no seu DNA. De repente, você surgiu reformulando frases, com uma simpatia de uns quatro copos de vodca a mais. E parecia com o sorriso mais bonito, apesar do cabelo ralo. Pra disfarçar a minha surpresa, preferi olhar pra sua camiseta limpinha e criei o mantra de que "camiseta limpa não é base pra relacionamentos, camiseta limpa não é base pra relacionamentos". Cheguei a conclusão que quando o assunto é "nós", ainda me divido feito aqueles discos antigos de vinil, sabe? Lado A, lado B... Divido as faixas, divido os planos, expectativas. No lado A fica aquela menina que não quis te magoar, não quis riscar o disco, que deixou a música tocar no ritmo da banda, que pensou deixar a vida seguir o rumo que tinha que tomar. O lado A reúne a nossa coletânea de refrões mais complicados, exigindo um tom definido, cobrança, treino, muita cabeça no lugar, muita metodologia. Uma repetição de algo como "nós versus o tempo". Um tempo que nos consumiu, enquanto a gente deixava e pegava na mão um do outro como todo casal. Esse é o resumo do lado A, tendo como faixa bônus mais um mantra: "sorriso bonito não é base pra relacionamentos, sorriso bonito não é base pra relacionamentos".
Até que se vira o disco e vem o lado B. Te olhando ali fico pensando nos refrões, imagino o ápice das músicas, que ainda que repetidas, todo mundo canta, todo mundo gosta. E quase me entrego ao seus olhos que ficam cantando aquela música que eu adoro. O lado B se enche dessa fase de querer criar porções de nós, pedaços seus, entre os lençóis, entre as ruas, entre encontros com sua camisa limpa (que não é base pra relacionamentos, mas que cheira você). É o lado mais rebelde, rock 'n roll, nada cheio de moldes, mas com tanta história pra contar. São os risos espalhafatosos que a gente colecionou enquanto via televisão no domingo ou quando se esqueceu do aniversário de um ano de namoro. São os momentos em que a gente conseguia crer que contos de fadas não existem, mas que é possível ser feliz numa segunda-feira de sol bravo só de se ligar e dizer "lembrei de você". Ou então quando surgia aquela voz de gato com amigdalite pedindo colo, mas que soa como a voz da Marisa Monte cantando o clássico "Beija eu". Delícia de amigdalite!
Confesso que ao te ver ali parado, cheguei a bolar milhões de mantras na cabeça, envolvendo sua camiseta, seu sorriso, seus ombros largos, sua voz, sua nova mania de falar com as mãos, sua nova mania de simpatia pós-vodca, seu novo gene de coragem. Sorri pra você, agora desviando os olhos da sua camiseta e virei as costas, fugindo da oportunidade de ouvir tocar de novo o lado A ou o lado B. Talvez meu problema seja te olhar. Talvez nosso problema seja a falta de toca discos de vinil no mercado. Quem sabe um dia eu consiga achar um. Quem sabe um dia a gente se ache por aí.