8 de dezembro de 2010

Rua Nós



Soundtrack: Tristan Prettyman - Hello!

Hoje queria de jeito despretencioso te chamar pra tomar um suco de acerola. E te vendo passar pela rua, fingir não ter nada pra fazer e simplesmente falar "vem aqui, um suco vai te fazer bem". Enquanto eu quisesse dizer "vem aqui, um suco com você vai me fazer bem". E então ficaria olhando como suas sobrancelhas são lindas e o jeito com que elas se mexem enquanto você fala. Mais uma vez fingiria não ter nada pra fazer, tendo o seu sorriso como a única coisa bem feita daquela tarde nublada. Eu ouviria tudo que você quisesse dizer e então você comentaria que estava com vontade de tomar um café. E balançando a cabeça, concordaria com meu olhar mais confortante. Você não entendendo nada, perguntaria se eu também queria o café. E segurando um lábio no outro pra não dizer que eu queria você, me perderia nos seus olhos que mudam de cor, falando que um café seria ótimo pra dar uma acordada. E rindo da minha falta de jeito você olharia pro seu tênis sujo, preparado pra dizer algo que te deixaria sem graça. Você diria que eu sou engraçada. Que falo coisas diferentes, mas que sou legal. E não sabendo se aquilo pudesse ser bom ou ruim, eu diria a típica frase: espero que isso seja bom, né? Risinhos medidos, olhares desviados. Um silêncio de uns doze segundos, vendo os carros passarem na rua. Começaria a me questionar, vendo seu rosto de lado, olhando a sua pinta, se isso é certo ou errado. Se é pecado te convidar pra tomar um suco de acerola que vira café, enquanto na verdade você me tomava ali mesmo. Mas nada seria tão errado que não pudesse caber no espaço que sobra todas as noites na minha cabeça, antes de dormir. O que eu quero é tão simples, muito mais simples que ficar te olhando, ouvindo sua voz rouca, sem você ser meu. Sendo castigada com seus dentes brancos e com a sua mania de ficar olhando no relógio. Pensaria eu, que era pressa ou que eu pudesse estar sendo chata e então faria uma piada do tipo "seu apressadinho", na esperança de você dizer "não, eu nem tenho nada pra fazer mesmo". O que eu quero é simples, é você. E mesmo se eu tivesse muita coisa pra fazer, largaria tudo se te visse mesmo na rua. Eu trocaria mesmo o suco de acerola pelo café. Assim como trocaria as roupas de cama, arrumaria a casa, o coração, tudo. Trocaria meu travesseiro pelo teu peito e o barulho dos carros lá fora, por músicas misturadas às batidas do seu coração. Saudável, sem dores, sem maldade, ali, simplesmente batendo no meu ouvido antes de dormir. Trocaria as direções, nos vendo andar na mesma calçada, no mesmo rumo, num destino só. E trocaria qualquer vazio que fosse, pelo vão que sobra entre nossas mãos enquanto enlaço teus dedos. Hoje queria que fosse mais fácil te achar andando por aí, mas sento na lanchonete e sozinha tomo um suco de acerola, enquanto você não aparece para que eu troque por um café. Enquanto você, aí de longe, mexe comigo aqui dentro e me faz esperar por outra lanchonete, outra hora, outra rua que possa ser a nossa. Rua Nós.

29 de novembro de 2010

Porquinho rosa de vidro



Soundtrack: Los Hermanos - O Vento

Quando criança ganhei um daqueles cofrinhos de vidro. Era um porquinho rosa, que veio acompanhado das frases do meu pai: esse cofrinho é pra que você aprenda a poupar e assim, quando um dia te der vontade de quebrá-lo, possa ver o quanto conseguiu guardar. Lembro que ele me disse que guardando as coisas lá dentro, um dia eu teria um saldo positivo. O tempo foi passando e a cada dia eu sentia que meu porquinho ficava mais pesado. Eu fazia massagens na minha irmã por 25 centavos e lavava as louças por 50 centavos. Minha avó era uma contribuidora forte, sempre que me visitava levava algumas moedas, que se uniam aos trocos das compras de verduras da minha mãe. O tempo foi passando e acabei esquecendo do cofre. Um dia, já mais velha, achei o presente do meu pai bem no fundo do guarda-roupa. Pensei em quebrá-lo e foi então que me veio uma idéia. Já pesado de moedas, eu não queria mais que aquele cofre guardasse dinheiro e decidi começar a depositar pedaços de papéis lá dentro. Cada papel teria algo que eu aprendi e o nome de quem me ensinou. Era uma experiência construtiva, eu me sentia na urgência de guardar tudo aquilo pra mim, mesmo que fosse dentro de um porquinho rosado de vidro. E continuei com esse ritual, até o dia em que já não cabiam mais papéis, o que sinalizava a hora de quebrar o cofre. Criei coragem, quebrei. E então vendo os papéis misturados às moedas pratas, douradas, velhas, usadas, cheguei a conclusão de que tinha um tesouro na minha frente. Muito além de uma brincadeira de criança, passei a imaginar por quantas mãos tudo aquilo passou até que chegasse em mim, assim como por quantos ouvidos tinham passado as frases que se guardavam nos pedaços de papel. Me dei conta de que meu cofre era como uma vida. Vamos ficando velhos, gastos... Vamos simplesmente passando pelas mãos das pessoas, se não passamos a perceber que sempre teremos o mesmo valor. Mesmo quando guardados lá no fundinho do guarda-roupa de alguém, no final, sempre seremos nós e teremos o valor que nos damos. Valor tal que vem escrito na nossa moeda e que não aceita pechinchas, nem fiado. No fim, todas essas moedas encontram alguém, mesmo que se demore para quebrar o cofrinho e começar a espalhá-las por aí. No fim, são como as frases que a gente vive guardando, escrevendo nesses papéis que montam corações de origami. Guardamos tudo, em letrinhas miúdas, letra bonita ou letra feia. Guardamos e não dividimos. Esperamos alguém quebrar o cofrinho para que tenhamos coragem de repartir. Talvez seja medo de não sermos capazes de ajudar alguém a montar um origami tão bonito aos olhos do outro. Talvez seja preciso se misturar aos cacos, seja preciso doer e acabar se machucando para que se veja que está nas nossas mãos montar o origami mais bonito, aos nossos olhos. No fim do dia, cheguei à conclusão que meu pai tinha uma ótima intenção, mas cofrinhos não funcionavam comigo. Cansei de me poupar, passei a querer tudo exposto. Não adianta me pedir pra guardar as coisas em busca do saldo positivo. Gastei todo o dinheiro comprando um cd dos Los Hermanos e muito, muito papel pra escrever. Passei minhas moedinhas pra frente, assim como passo a frente, no meu cofrinho aberto, tudo que sinto e aprendi. Esse é meu saldo positivo. Fica a lição do porquinho rosa: não adianta se poupar quando se é moeda circulante, quando se tem um coração origami cheio de coisas pra falar. E essa sou eu, pai.

21 de novembro de 2010

Entre duas mãos



Soundtrack: Colbie Caillat & Jason Reeves - Droplets

Escrevi seu nome num guardanapo de bar. Escondida num sorriso amarelo, fingi estar só brincando com o papel. Dei três dobrinhas e pus entre as duas mãos, como se te protegesse ali dentro da minha conchinha. Enquanto todos falavam, guardei teu lugar na cadeira ao lado com a bolsa. Não querendo bancar a louca, mas acho que eu esperava uma daquelas mágicas em que você pudesse aparecer. Entre um sorriso e outro olhei o celular. 21:48. Então, veio o garçom com aquele tom de voz que todos eles parecem ter, sempre acompanhados do "e aí, o que vocês vão querer?". No fundo, todos eles sabem o que nós queremos. Entramos nos bares, pedimos a cerveja, damos risada, ouvimos música e reclamamos de pagar o couvert. Quando queremos mais cerveja, só tiramos a garrafa do protetor e o garçom começa a encher o papel da conta de risquinhos, até ficarmos todos alterados, aumentarmos o volume da risada e elegermos alguém bom de matemática ou menos bêbado pra cuidar da conta. Só que quando ele questionou o que todos queriam, uma resposta comunitária foi contra o que eu pensava. Todos queriam cerveja. Eu quis pedir você. Mas só consegui descansar os cotovelos na mesa e ter um copo na mão. Historicamente, eu era a imagem de alguém tentando ser feliz sentada e sem poder fazer nada. Me levantei e fui ao banheiro, com minha carga de lamentações nas costas, esperando jogar tudo num vaso e sumir pelo ralo. Como num desfile, o espelho do banheiro estava tomado por várias meninas sorrindo e passando batons rosados, daquela nova moda "cor de boca". Em meio àquelas roupas e seios grandes apertados nos decotes, só consegui meu único sorriso amarelo. E esse foi por não poder dividir da minha esquisitice contigo. Não lamentei abrir a bolsa e dar de cara com um livro do Saramago ao invés de um batom. Também não guardei o espaço na cadeira para alguém que só gostasse de seios grandes. Lembrei do jeito com que você falava dessas coisas fúteis, mas confesso que pensei se numa hora daquelas você não estaria borrando uma daquelas bocas rosadas em outro lugar, sem ao menos pensar na minha esquisitice e nos meus seios pequenos. Abri a torneira e pensei em jogar uma água na cara, descer logo daquele salto, mas minha esquisitice não usa maquiagem todo dia (muito menos salto). Sentei novamente na mesa e minha amiga questionou porque eu estava tão inquieta. "Eu, inquieta? Imagina! Tô esperando o show começar". Olhando os caras da banda reparei no guitarrista tatuado. Ele era charmoso e usava uma camisa xadrez. Naquele momento pensei como é fácil achar as outras pessoas lindas quando se espera por alguém que não chega. Ele cantava de um jeito rouco, seduzia os olhos e os ouvidos de todas as meninas, inclusive as do batom rosado. Até que eu comecei a perceber como ele deveria ser chato, porque não dava espaço para o baixista aparecer e ficava o tempo todo jogando o cabelo pra trás de um jeito irritantemente sou-o-melhor-guitarrista-de-todos. Mas a música era boa, talvez você gostasse, talvez você estivesse comigo ali ao lado na cadeira quando tocaram Metallica. Ali, sentada, pude constatar a humildade em tentar te guardar entre duas mãos, enquanto eu nem sabia me guardar de todos esses sentimentos. Ali, quis ganhar um pouco do seu carinho e me curar daquele tédio, podendo rir de graça meu sorriso mais colorido (e nada de amarelo dessa vez). Quis não precisar de guardar a cadeira e nem de te embrulhar num papelzinho só pra você estar ali. Quis insistir em nós, em você que é lindo até calado, que não precisa de uma tatuagem pra ser sexy, bastando só passar a mão no cabelo daquele jeito ou me olhar com cara de sério. Quis avançar o passo, te escrever uma mensagem, pedir pra você ficar só comigo. Mas aquela confusão toda era só desejo de ser algo certo e isso nem eu sinto que sou comigo mesma, a senhora esquisita. Dei sua cadeira para uma moça que estava em pé, rasguei o papelzinho amontoando os pedaços entre os restos de uma porção de mandioca finalizada. Não preciso disso, não preciso desse ritual. De alguma forma, acredito que você não vai estar borrando bocas rosadas e mudas, talvez, quem sabe alguma boca que te fale algo legal. Acredito que certamente você olha para aquela sua amiga que de interessante só tem os peitos e enquanto isso eu olho aqui para o cantor sexy e metido da banda. Nosso livre arbítrio é olhar, mas lá no fundo saber o que queremos. Também sei que lá no fundo tem coisas que você só conta pra mim e que gosta do meu jeito, sem o batom na bolsa. Te espero, mesmo sem você ter me pedido, mesmo que às vezes eu chegue no limite dessa querência de você aqui. Espero, porque lá no fundo eu sei que o seu sorriso sem graça sempre diz pra eu não desistir de você. E eu gosto da sua honestidade, mesmo às vezes nada escancarada. Mesmo com seu silêncio, que não cabe entre as minhas duas mãos.

4 de novembro de 2010

4 em 365



Soundtrack: Lenine - O silêncio das estrelas

Hoje, acordei e fiquei vendo o Sol mostrar seu rascunho com a chegada no céu. Ali, estática, assumi a condição de telespectadora de rascunhos de Sol a cada tarde, de rascunhos de pessoas e momentos. Acordei, tomei meu café e saí ao encontro de coisas em que, eu sei, você não está. Saí com o pensamento de não te revelar em mim com a primeira lembrança e torci para não encontrar o vizinho no corredor, que tem o mesmo cheiro que o seu e deve me achar uma idiota por nunca conseguir trocar mais de duas palavras. Fugi. E pequei: lembrei de você ao primeiro passo fora de casa. Mas ensaiei o sorriso fingindo que o mundo por aqui tá lindo. Que estou rodeada de pessoas e não preciso de mais nada. Me enchi de amigos, de frases e feitos, enquanto fazia toda a maquiagem dessa imagem de mim. Disfarcei uma saudade, mas deixei os pés afundarem até a canela em tudo isso que envolve você. Saí e logo o vento me encostou, feito seus dedos apoiados nos meus ombros. Me tocou feito sua boca em minha testa. Me arrepiou e eu fugi. Fingi não sentir nada, mas já pequei: lembrei de você ao primeiro toque do dia, ainda que do vento. Nunca pego o sinal de pedestres aberto e fico sempre no vermelho, vermelho, vermelho, vermelho... Tive tempo de pensar como deve estar sua barba ou se naquele momento você poderia estar acordando e até pensando em pecar ao pensar em mim também. Verde. Atravessei a rua, enquanto sentia que agora já estava afundada até os joelhos. Pensei em te mandar uma mensagem dizendo que me lembrei da sua barba no sinaleiro da avenida, mas não teria a minha voz irritante pra dizer. Não teria a mesma graça sem ver sua reação, sem saber se você estaria colocando a língua pra fora, fazendo aquela cara que você sabe fazer quando não sabe o que dizer. E aí não deu, logo no terceiro pecado me entreguei. Quis sair correndo e encurtar qualquer distância. Ficar olhando para a tua mão bonita e não para tantas palavrinhas miudinhas em cantos de caderno. Quis sentar num banco e te esperar, sabendo que uma hora você vem. Quis de verdade atropelar o tempo e não fazer mais sentido. Quis seu abraço no frio, sentir sua respiração ritmada no meu pescoço e parecer estranha por gostar de quem não é meu. Mas eu sou assim, boba e de entrega fácil ao seu sorriso despreocupado.
Hoje é dia 4 de novembro. Hoje eu me permiti parecer essa louca, que você já pensa que eu sou. E muitas coisas passaram pela minha cabeça, desde o primeiro dia em que eu te vi, com aquela camisa que virou assunto. Vieram todos os silêncios por não saber o que te falar ou como dizer. E vieram também todos os silêncios que falaram por si só, pude juntar todas as palavras que calaram. Revi todos os seus sorrisos e tive que concordar com a minha mãe: ele é realmente o mais lindo do mundo. Tudo me trouxe lembranças. Tudo me trouxe você, em dias de chuvas, em madrugadas insanas, momentos diferentes de tudo que eu já vivi. O destino me trouxe você em camas diferentes, em uma cama igual e uma saudade única. Você veio até mim, me fazendo comer maionese uma vez na vida, ouvir música sertaneja ou qualquer outra coisa que seja totalmente diferente. Desculpa que eu não sou poeta e fico emendando essas sensações esquisitas, que talvez você não sinta. Não sei encaixar tudo que eu quero dizer e as frases ficam soltas, feito eu sem teu abraço. Desculpa se elas ainda deixam transparecer o medo que, no fundo, eu sinto de tudo isso. Mas gosto do que eu sou quando estou ao seu lado. Gosto de poder escolher a música pra gente ouvir e de mexer no seu cabelo. Gosto de ver os rascunhos nas pessoas por aqui e ver que a cada dia o nosso é o mais indicado para uma boa leitura. Permito nossa insegurança, mas mesmo com medo, eu estou aqui. Mesmo sabendo que você não dirá nada, deixo você disfarçar num "você escreve bem". Mesmo sabendo que hoje, quando eu deitar, terei uma noite inteira da minha própria companhia, estou aqui. De modo estranho e por meio de um texto previsível e cheio de repetições de você, eu, você, eu... me entrego nessas linhas. Hoje é dia 4. E de maneira desconexa, como um 4, em 365, eu te amo em todos os seus defeitos e silêncios.

12 de outubro de 2010

Desabotoar



Soundtrack: Jason Mraz feat. James Morrison - Details in the fabric


Tô descalibrada. Não consigo regular essa falta de paciência por não ter você aqui. Meus poros se dilatam quando falo seu nome, acho que eles esperam que você venha por aí, em um vento de fim de tarde e entre aqui dentro do que eu sou. Fico enchendo as coisas de dias e os dias de coisas. Tô vivendo a favor de uma hora em que você vai olhar pra mim aqui, vestindo o meu melhor sorriso, com a caneta e o papel na mão, pronta pra escrever nossa história. Mas sei que, no fundo, isso é tudo de uma mão só. Sei que pra você o vento que bate na pele é um vento qualquer, que você não vai chegar assim de mansinho como nessas histórias lindas que eu fico inventando antes de deitar. Sei que sou sonhadora demais, que sou sinal de bagunça na vida de um sujeito "da cabeça boa e pés no chão". Mas queria que você quisesse me levar pra casa mesmo com todas essas minhas inconstâncias. Queria conseguir te convencer a ficar, a me deixar ficar e te ofereço em troca todo o meu bom humor ou aquela cara de boba que você gosta. Queria te sacudir e falar que eu não tô escrevendo tudo isso a lápis. Dá pra você entender que pra mim não é rascunho? Ei, é caneta, é pra valer.
Já não sei mais fazer frases impactantes que queiram dizer: "olha pra mim aqui! Usa esses teus olhos esverdeados, essas duas íris lindas e delineadas e vê se me enxerga logo". Não sei mais o que te dizer. Juro que tô tentando me ajeitar na minha bagunça interior, nesses mil sentimentos que oxigenam meu sangue e passam pelo corpo, fazendo com que eu seja toda renúncia, fazendo com que eu seja definitiva em saudade quando o assunto é você. Mas só me desajeito mais. Queria um sinal de que não é tudo pela metade, que nunca foi. Queria aconchegar meus pés em um pouco de certeza... Não tô querendo tirar a sua liberdade, não tô te roubando pra mim. Quero que tudo isso seja leve, que os sorrisos falem pela gente. Só quero que você tenha vontade de se entregar ao que desabotoou depois de tanto tempo esperando florecer. Alegria boba, gratuita em meio à espera do "nós". Alegria louca de uma inconstante, mas com toda a vontade e talvez, a capacidade de te fazer feliz. Essa que sou eu, meio clichê escrevendo essas coisas descalibradas, mas inteira tua e talvez sempre descalibrada.